/> Πρωτεύς: Verdade e tempo

29 de janeiro de 2010

Verdade e tempo

                                                                                                                  Para Violet
A coluna de sombra de um pinheiro
Deitada sobre o asfalto até o pátio,
Onde o mármore, da concretude arauto,
Cala — é a medida do quão tempo ausente
De ser — ser, rastro de presença, memória:
Tua voz, tua palavra; teu corpo, tua imagem.
Mas o vazio, o todo lugar pleno de nada...

Hoje repugnam-me as vozes, todas as vozes
Que ouço, porque nenhuma te pertence. Farto.
Porque ouvir sobre teu silêncio
A balbúrdia das existências vãs
É também estar pouco mais ausente.
Todas as faces das milhões de farsas,
Todas as cores de suas mortalhas,
Todo alto-relevo de suas máscaras,
Senão símiles de coisas visíveis,
Translúcidas, porém, fogem através do claro.

Há uma mulher frente à vitrine
Como à própria vitrine uma falsa mulher.
Quem diria conceder-lhe imperfeições quaisquer?
Quem não dobraria os joelhos a crer na razão
De um qualquer deus perfeito, arquiteto euclidiano
De tais formas esculpidas em carne e ossos?
Mas o acrílico e o plástico são como a carne
E o corpo que vê é o mesmo corpo que é visto:
Refletem-se um no outro, rasas, as imóveis
Existências até que o tempo decomponha a superfície.
É que a rude geometria dos olhos mortais,
Incapazes de apreender a natureza dos singulares,
Não saberia conceber senão inócuas simetrias.
Que uma árvore espelhe a retidão dos cubos, porém,
Parece-me desdizer a verdade que no céu é nuvem.

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