/> Πρωτεύς: agosto 2012

12 de agosto de 2012

Poética XIV




Pensa em todo tipo de poema. Que há em comum que lhes justifique o nome? Que deve ser a poesia para que tudo que assim chamamos – e sabemos ser – seja poesia? Como se pode avaliar uma metáfora onde há metáforas? Como avaliar a forma concreta das palavras, onde sua existência de imagem destaca-se sobre o fundo de um dito insignificante? Como dizer “eis o maior” ou “eis o menor”? – pois importa muito a grandeza das coisas para que possamos nos contentar com o gosto – os bilhões diversos.

Em todo poema há o com que medi-lo: o inusitado. O inusitado da metáfora, da forma, da metafísica; o inusitado mesmo da face ordinária das coisas; o inusitado do óbvio ou do incompreensível, do insondável quando o místico aí se imiscui.

Todo verso para ser grande tem de ter a virtude de só poder existir como verso, trazer em si a fatalidade de sua existência e a impossibilidade de jamais ter existido não fosse o acaso que conjurou o poeta do silêncio que deseja inutilmente.

Pois todo poeta quer o silêncio, o silêncio mais profundo e completo, o silêncio que só pode existir se escreve. Por isso, escreve o poeta, para alcançar o silêncio, para tornar-se homem, e homem somente.

E mesmo a palavra vulgar e a imagem ordinária não poderiam existir senão como verso – descoberta tardia dos que se enojaram da grandeza da forma –, porque existir não é de todo estar no mundo, mas aí estar com a fatalidade de seu reverso, coberto de acaso e rodeado de silêncio – o silêncio que é o desejo do poeta.