/> Πρωτεύς: junho 2012

20 de junho de 2012

Machado - Espinosa


Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante idéia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas.

Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno. 



2 de junho de 2012

Cervantes - Diálogo entre Babieca e Rocinante




B. Como estais, Rocinante, tão delgado?

R. Porque nunca se come, e se trabalha.

B. Então não tens cevada nem tens palha?

R. Não me deixa meu dono nem bocado.

B. Arre, senhor, que estais mui malcriado:
Contra ele tua língua de asno ralha.

R. Asno se é desde o berço até a mortalha.
Quereis-lo ver? Olhai-o enamorado.

B. É necedade amar?

R.                                Não é prudência

B. Metafísico estais.

R.                                É que não como.

B. Queixai-vos do escudeiro.

R.                                            Não é bastante.
Como me hei de queixar nesta dolência,
Se dono e o escudeiro ou mordomo
São tão rocis como este Rocinante?



Trad. De Carlos Nouugué e José Sánchez para O engenhoso fidalgo D. Quixote de la Mancha.