/> Πρωτεύς: outubro 2011

15 de outubro de 2011

Orwell Revisited

Ano 56 d.J[1]:

Tenho olhos em toda parte,
                                            Infinitos olhos.
Um só olhar,
                     em toda parte,
Um olhar infinito.

Todos estão no centro;
Todos estão nas celas;
O centro é qualquer parte.

Eles têm olhos em toda parte;
Nada está oculto senão a córnea:
Ele tem olhos por todo o corpo.

Guardamos, somos guardados.
Somos o Rei, o pescoço e o machado.

Vê, selvagem!
Para todo peixe
há uma rede.





[1][Ano 2011 do calendário vulgar, dito cristão – digo-o para o interesse dos antiquários.
Graças a Jobs, já não restam muitos! Um dia quem sabe, já os teremos esquecido a todos.
Melhor: nada restará para ser lembrado. Nada que não refaçamos, que não seja sempre novo.

8 de outubro de 2011

Lugares Comuns

Aroldo Pereira, o "beatnik" de Montes Claros
Ontem estive, de passagem, no Psiu Poético - um evento de poesia que ocorre há 25 anos aqui em Montes Claros. Sei que muitos dos fazedores de versos na blogosfera se sentiriam em casa no dito "salão nacional da poesia", mas não sou um deles. Por que? Ai, ai, ai... tenho de falar de coisas desagradáveis.

Uma pergunta: alguém ainda sabe o que é poesia? Alguém se interessa por isso? São duas na verdade...

Heidegger disse em certo momento [não... não me lembro mais onde... falta-me paciência para Heidegger também] que a poesia era o ofício mais inocente. Se isso é verdade eu não sei. Sei que a poesia contemporânea [salvo raríssimas excessões] é o mais insignificante. Faz-se versos para o próprio ego... para dizer-se poeta; quer-se a antiga "honra e glória", como diria Blanchot, por "expressar" os sentimentalismos tão próprios a nossa raça, cultura e morna vida.

Não é de admirar-se que os "poetas" tenha que pagar para publicar seus versos que ninguém deseja comprar. Quem se interessaria por isso? Acaso tornamo-nos todos psicólogos de fim-de-semana para nos interessarmos pelas ninharias de cada sensível espírito?

Ah, desde que puseram abaixo a métrica e a rima, já não se pode conter as velhas senhoras, as infindáveis crônicas da mediocridade. Mas Gullar já falou sobre isso e não gosto de repetir os outros....

Que pode ser pior do que a "expressão" de "sentimentos" na poesia? Poderia ignorar sem dúvida esses pretendentes à poetas que mal leraram alguns versos de Vinícios de Moraes, Drummond e Campos, mas nunca ouviram falar de Camões, Dante ou Virgílio; poderia, certamente, tolerar esses embriagados da Carta de Rilke que não souberam entender o que significa a necessidade de que fala o grande poeta, desperdiçando seu conselho; poderia até sorrir da pretensão poética dos que mal dominam a sempre "inculta e bela". Sou um homem tolerante afinal de contas.

Não são os pobres e medíocres que me exasperam, mas os melhores, os profissionais, os que se chamam e são chamados de poetas. Deus meu, quanto tempo ainda continuarão a imitar vanguardas de terceira idade?Quanto drama ainda farão para chegar a... lugares comuns.

Para que não digam que sou injusto. Vai aí um poema do último livro do grande "beatnik" que se perdeu no tempo e no espaço, vindo parar em Montes Claros e hoje vive de ensinar aos "catrumanos" [algo como humanos quadrúpedes; ou quase humanos; ou quase humanos quadrúpedes; ou quase humanos quase quadrúpedes....ad infinitum] como é ser de "vanguarda":

"

trelelê
meupautácomsaudadedasuaboca
                                                                                                                                                                "

Fantástico não? Tão desafiador dos padrões e valores tradicionais da sociedade burguesa... quem sabe há uns 80 anos chocasse alguma carola. Precisavam ver o sofrimento mental dos que foram obrigados a ler o tal livro para a seleção de mestrado em Literatura da Universidade local... chocados? não... apenas entediados.