Nota dos Autores: A relação entre a Filosofia e a Literatura tem sido um campo fértil para trabalhos acadêmicos de ambos os lados. Em breve, aqui, publicaremos alguns textos nesse horizonte, mostrando o quão ele pode ser fértil e problemático, podendo se desenvolver tanto como uma análise (ou construção) filosófica de textos literários quanto como uma análise (construção) literária de textos filosóficos.
Rastreamos essa relação deste o princípio da Filosofia quando a tese cosmológica de Tales de Mileto acerca do princípio material da Physis refletia ainda concepções que podemos encontrar na cosmogonia de Hesíodo; a tese de Parmênides foi composta em um poema filosófico; Platão foi o primeiro a utilizar alegorias para ilustrar teorias filosóficas e Aristóteles o primeiro a analisar racionalmente a poesia em sua Poética.
Teremos, à época do Romantismo, o ressurgimento da figura do Filósofo-poeta em Goethe, os irmãos Schlegel e Novalis. E já ao fim do século XIX a obra de Nietzsche que conjuga a analise filosófica da literatura (Nascimento da Tragédia) com a construção poética da filosofia no poema filosófico Assim falou Zaratustra.
O século XX, por sua vez, fez emergir a clivagem entre a filosofia literária (ou literatura filosófica) e a filosofia científica, representada pelo movimento analista: Heidegger, Blanchot, Sartre, Deleuze, Foucault - chegamos ao século XXI com um pensamento que oscila entre a racionalidade cuja forma geral é dada pela Filosofia e a produção conceitual que não dispensa os recursos da literatura. A litero-filosofia, como gostam de dizer pejorativamente os filósofos analíticos, multiplica os espaços de interlocução no horizonte do saber.