O que escrevo?
Não ao certo o que sinto.
Se digo “eu”, minto —
E agora minto.
Toda lembrança se ajunta
Num mesmo fosso,
Vala-comum e vão esforço
De estar ali. Não estou.
Se digo “fui”, ao certo,
Mesmo “serei” e “sou”,
Suponho somente e erro.
Fica-me o silêncio
Do que não tive,
Um simulacro apenas,
Como do que não terei:
A cicatriz, sombra
Da própria sombra.
Fica-me o silêncio,
E o silêncio, ser e fato
— e fome e fardo.
Resta do que não fui
A verdade do que não sou
E do que perdi, a ausência
Do que não tive. Mas
Nenhum sentido, nem senso,
Nem sentimento ou sonho.
Nada. Nem “eu”.
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