/> Πρωτεύς: Oscar Wilde - The Ballad of Reading Goal ( II )

13 de outubro de 2010

Oscar Wilde - The Ballad of Reading Goal ( II )


II


Six weeks the guardsman walked the yard,
In the suit of shabby gray:
His cricket cap was on his head,
And his step was light and gay,
But I never saw a man who looked
So wistfully at the day.

I never saw a man who looked
With such a wistful eye
Upon that little tent of blue
Which prisoners call the sky,
And at every wandering cloud that trailed
Its ravelled fleeces 'by.

He did not wring his hands, as do
Those witless men who dare
To try to rear the changeling Hope
In the cave of black Despair:
He only looked upon the sun,
And drank the morning air.

He did not wring his hands nor weep,
Nor did he peek or pine,
But he drank the air as though it held
Some healthful anodyne ;
With open mouth he drank the sun
As though it had been wine!

And I and all the souls in pain,
Who tramped the other ring,
Forgot if we ourselves had done
A great or little thing,
And watched with gaze of dull amaze
The man who had to swing.

For strange it was to see him pass
With a step so light and gay,
And strange it was to see him look
So wistfully at the day,
And strange it was to think that he
Had such a debt to pay.

***

The oak and elm have pleasant leaves
That in the spring-time shoot:
But grim to see is the gallows-tree,
With its adder-bitten root,
And, green or dry, a man must die
Before it bears its fruit!

The loftiest place is the seat of grace
For which all worldlings try :
But who would stand in hempen band
Upon a scaffold high,
And through a murderer's collar take
His last look at the sky?

It is sweet to dance to violins
When Love and Life are fair :
To dance to flutes, to dance to lutes
Is delicate and rare:
But it is not sweet with nimble feet
To dance upon the air!

So with curious eyes and sick surmise
We watched him day by day,
And wondered if each one of us
Would end the self-same way,
For none can tell to what red Hell
His sightless soul may stray.

At last the dead man walked no more
Amongst the Trial Men,
And I knew that he was standing up,
In the black dock's dreadful pen,
And that never would I see his face
For weal or woe again.

Like two doomed ships that pass in storm
We had crossed each other's way:
But we made no sign, we said no word,
We had no word to say ;
For we did not meet in the holy night,
But in the shameful day.

A prison wall was round us both,
Two outcast men we were :
The world had thrust us from its heart,
And God from out His care :
And the iron gin that waits for Sin
Had caught us in its snare.

(Wilde, 1898)

*****

Sobre a Balada de Wilde

II

But I never saw a man who looked.”
So wistfully at the day

Por isso a Balada de Wilde não é uma ode ao sofrimento. O condenado, mesmo sob todo suplício descrito nos últimos estrofes da primeira parte, não se entrega ao desespero, nem ergue uma enganosa esperança. De algum modo ele superou seu sofrimento, e o enigma dessa superação constitui o principal mote da peça poética.


"For strange it was to see him pass
With a step so light and gay,
And strange it was to see him look
So wistfully at the day,
And strange it was to think that he
Had such a debt to pay

Nietzsche disse certa vez, e não sem razão, que o cárcere não é o lugar dos conscienciosos, que o aprisionamento não é capaz de infundir no homem a consciência da culpa, mas resulta “numa intensificação da prudência, num alargamento da memória, numa vontade de passar a agir de maneira mais cauta, desconfiada e sigilosa, na percepção de ser demasiado fraco para muitas coisas, numa melhoria da faculdade de julgar a si próprio”. Isso se aplica com certeza ao próprio Wilde, cuja encíclica De profundis, nada tem de um embate moral sobre a culpa, o pecado e a responsabilidade do castigo, mas é antes de tudo uma revolta contra  a imprudência de Lorde Douglas e a sua própria, na medida em que se deixou levar por aquele para um duelo que não poderia vencer. Wilde, o desafiador da sociedade vitoriana, conceberá em seu aprisionamento, como o destemor é punido, mas não lançará a sombra da má-consciência sobre os próprios atos e, para a surpresa de muitos, nem sobre os atos de Lorde Douglas, a quem chama para junto de si no mesmo ano em que escreve a Balada.

Mas nada disso aparece na peça poética. O real desenvolvimento dos sentimentos humanos é substituida pela construção de um mundo a parte no qual os aspectos da condição humana podem ser vislumbrados em figuras cuja vida foi totalmente inventada e, por isso mesmo, transparecem de modo mais claro e vigoroso. Este sentido da obra de arte, pelo qual Wilde elogia Balzac e critica Zola e outros realistas, resume-se nesta sua radical declaração: “Uma leitura constante de Balzac converte nossos amigos vivos em sombras e nossos conhecidos em sombras de sombras”.

Do mesmo modo, o personagem da Balada goza de uma vida férvida, um vigor inexplicável que o eleva acima de sua condição. O sofrimento é dele transferido para o expectador, daí o fato emblemático que sua experiência é narrada de fora, da perspectiva dos outros condenados que o assistem e mediam o acesso do leitor a essa figura.

A arte nada tem a ver com a vida nesse sentido, mas encerra-se no mundo particular que cria: não um mundo geral de toda a arte, mas cada novo mundo que as grandes obras desenham, como para Heráclito é o sonho de cada homem em contraponto à vigília. Ela não segue os princípios lógicos, nem se importa com a contradição; o espírito de seus personagens animados tem a mesma matéria que seus corpos, “a mesma matéria de que são feitos os sonhos” e não se deixam levar pelas leis naturais que governam a ação humana. Como os deuses de Homero, cada Quixote que a literatura traz a existência ex nihilo, compartilha com os viventes algo de humano, mas de tal modo exagerado e isolado ou associado a aspectos inconciliáveis que cada vida ficcional se converte num experimento mental similar aqueles tão ao gosto de nossos atuais cientistas da natureza – a ciência hoje assim, também, revela seu caráter poético, mas de tal modo envergonhado que muitos anos ainda serão necessários para que nossos sábios físicos compreendam que, no extremo, dividem o panteão dos poetas.

***

Os conceitos estéticos, ente eles o conceito fundamental do belo, não são algo de pré-existente, mas como fins com os quais os sentidos desenham o significado da experiência sensível, materialmente considerada, são vazios de princípio e somente se preenchem na própria experiência. A experiência determina o belo e o feio, o sublime e o grotesco, não segundo a natureza das próprias coisas, mas segundo sua participação nela: a natureza é a experiência da natureza, e o que é belo na experiência do belo não o será na experiência do horrendo, o que é vida na primavera da vida será o seu oposto no inverno.


"The oak and elm have pleasant leaves
That in the spring-time shoot:
But grim to see is the gallows-tree,
With its adder-bitten root,
And, green or dry, a man must die
Before it bears its fruit!"

E, contudo, aqui a experiência que distingue o belo e o horrendo, é, como ex-peri-ência, algo de profundamente diverso da natureza de seu objeto. A arte também tem seu limite arraigado no limite da experiência humana, coisa que faz toda memória póstuma não mais que uma pantomima de pouco interesse. Poucos grandes artistas ousam narrar a vivência extrema ou quando o fazem, seu propósito fantasioso é tão bem explicitado, que o risco dos lugares comuns é afastado pela revelação do propósito caricatural das crendices ordinárias. Mesmo as Memórias Póstumas de Machado, excluem a experiência da morte: ali a morte não tem qualquer significado relevante senão como lugar donde a vida pode ser avaliada em seu todo, seguindo-se a máxima de Montaigne, mas que nada diz de si próprio. Quanto as obras propriamente míticas, seu caráter mítico exclui, de princípio, o estabelecimento do significado humano da experiência em favor de outro sentido arraigado no universo mítico que reconstrói: desde Aquiles a falar a Ulisses, a passar pelos mortos de Dante, até o rei Hamlet, ávido de vingança. Frequentemente, ao certo, a morte não é uma experiência reconstruída pela arte, mas uma experiência dada a partir da qual certo sentido é atribuído a experiência dos viventes como o é The Raven de Poe.


"At last the dead man walked no more
Amongst the Trial Men"
Há algo nestes versos que prolonga o significado da experiência final de vida  do condenado. É que não mais andando entre os reclusos, o homem morto está livre. A morte é o limite do sofrimento. Por mais horrenda que seja a imagem do homem morto, este já nada tem a ver com o sofrimento ou seu oposto. Mors omnia solvit. Por isso não é a morte que se abate sobre o condenado o motivo do horror, não é a própria morte a condenação mais terrível senão a espera da morte, a existência, dia após dia, passo após passo em direção ao cadafalso. É a morte como rastro da morte e a condenação como rastro da condenação, que, impregnando a vida aprisionada, a faz um ensaio de morte.


***

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