/> Πρωτεύς: Oscar Wilde - The Ballad Of Reading Gaol ( I )

9 de outubro de 2010

Oscar Wilde - The Ballad Of Reading Gaol ( I )

I


He did not wear his scarlet coat,
For blood and wine are red,
And blood and wine were on his hands
When they found him with the dead,
The poor dead woman whom he loved,
And murdered in her bed.

He walked amongst the Trial Men
In a suit of shabby grey;
A cricket cap was on his head,
And his step seemed light and gay;
But I never saw a man who looked
So wistfully at the day.

I never saw a man who looked
With such a wistful eye
Upon that little tent of blue
Which prisoners call the sky,
And at every drifting cloud that went
With sails of silver by.

I walked, with other souls in pain,
Within another ring,
And was wondering if the man had done
A great or little thing,
When a voice behind me whispered low,
'That fellow's got to swing'.

Dear Christ! the very prison walls
Suddenly seemed to reel,
And the sky above my head became
Like a casque of scorching steel;
And, though I was a soul in pain,
My pain I could not feel.

I only knew what hunted thought
Quickened his step, and why
He looked upon the garish day
With such a wistful eye;
The man had killed the thing he loved,
And so he had to die.

Yet each man kills the thing he loves,
By each let this be heard,
Some do it with a bitter look,
Some with a flattering word,
The coward does it with a kiss,
The brave man with a sword!

Some kill their love when they are young,
And some when they are old;
Some strangle with the hands of Lust,
Some with the hands of Gold:
The kindest use a knife, because
The dead so soon grow cold.

Some love too little, some too long,
Some sell, and others buy;
Some do the deed with many tears,
And some without a sigh:
For each man kills the thing he loves,
Yet each man does not die.

He does not die a death of shame
On a day of dark disgrace,
Nor have a noose about his neck,
Nor a cloth upon his face,
Nor drop feet foremost through the floor
Into an empty space.

He does not sit with silent men
Who watch him night and day;
Who watch him when he tries to weep,
And when he tries to pray;
Who watch him lest himself should rob
The prison of its prey.

He does not wake at dawn to see
Dread figures throng his room,
The shivering Chaplain robed in white,
The Sheriff stern with gloom,
And the Governor all in shiny black,
With the yellow face of Doom.

He does not rise in piteous haste
To put on convict-clothes,
While some coarse-mouthed Doctor gloats,
and notes
Each new and nerve-twitched pose,
Fingering a watch whose little ticks
Are like horrible hammer-blows.

He does not know that sickening thirst
That sands one's throat, before
The hangman with his gardener's gloves
Slips through the padded door,
And binds one with three leathern thongs,
That the throat may thirst no more.

He does not bend his head to hear
The Burial Office read,
Nor, while the terror of his soul
Tells him he is not dead,
Cross his own coffin, as he moves
Into the hideous shed.

He does not stare upon the air
Through a little roof of glass:
He does not pray with lips of clay
For his agony to pass;
Nor feel upon his shuddering cheek
The kiss of Caiaphas.

(Oscar Wilde, 1898)

***

Sobre a Balada de Wilde

I



The Ballad Of Reading Gaol é o mais célebre poema de Oscar Wilde. Nas palavras de Oscar Mendes, “sem dúvida a sua peça poética mais sincera, mais profunda, mais humana, de simplicidade mais emocionante”. Escrito na pequena aldeia de Berneval, em 1897, ano em que Wilde deixa a prisão de Reading, onde cumprira pena devido ao escândalo envolvendo Lorde Alfred Douglas. Wilde morreria pouco depois, em 1900, não sem deixar, com sua obra, um dos mais completos retratos da Era Vitoriana.

A Balada é uma impressão do cárcere, do efeito devastador do aprisionamento sobre o espírito criativo e, assim como Memórias da casa dos mortos de Dostoievski, constrói um retrato singular e ao mesmo universal dos canteiros de barbárie com os quais a civilização orna sua tranquilidade quotidiana.

Da primeira parte nos ficam versos lacônicos que toda a Justiça Humana resumem, não sob juízo de acerto ou desacerto, perfeição ou imperfeição, mas, desde a voz de um outro condenado, na constatação do que é e parece não poder ser de outro modo:

“The man had killed the thing he loved,
And so he had to die.”

Um homem bom aqui deve ver aqui somente a simplicidade da justiça; simplex signum veri: nada mais simples do que isso, que se tenha que pagar uma vida com outra. E, contudo, eis o mérito extra-poético da Balada de Wilde: afora quaisquer dúvidas sobre a culpa, a reparação e a frieza com que um homem é assassinado, não sob o atropelo das paixões, mas metodicamente, a empatia de um condenado para com outro supera em muito a singular situação do aprisionamento. Somente desde essa empatia adquirem valor os versos que se seguem:

“For each man kills the thing he loves,
Yet each man does not die”

Parecerá que, leviano, o poeta não distingue entre a destruição de uma vida, material e espiritual, da metafórica morte de um afeto. Presumo que os leitores familiarizados com os conflitos morais que permeiam a escrita de Wilde se absterão de tal superficialidade. Porque aqui fala não o sofrimento do que perece, mas o sofrimento duas vezes maior daquele que faz perecer algo sumamente valioso para si mesmo. É o mesmo sofrimento de um louco sobre o cadáver de seu deus; sofrimento que não deixa de ser o próprio espírito vitoriano.

O homem assassinara a mulher a quem amava em seu leito

“And blood and wine were on his hands
When they found him with the dead”.

Aqui, o antagonismo fundamental do estranho personagem — vinho e sangue; Eros e Tánatos; esperança e perdição — de dois modos manifesto: o homem matara a quem amava, enquanto ainda a amava e talvez porque a amava – o vinho é o signo do júbilo e do gozo –; o homem matara a quem amava, portanto matara também o seu amor, matara uma parte de si, e em parte já estava morto; o homem matara, era um assassino, um pecador, um condenado e justamente um desses condenados para os quais dizem veio o Cristo – vinho e sangue são esta esperança a qual tentarão lhe retirar.

O sofrimento desse homem não é o do remorso. A réplica de Wilde ao princípio retributivo da justiça humana esclarece que o maior crime desse homem é ter destruído uma parte de si próprio. Sofrimento que supera qualquer outro e do próprio poeta-condenado:

“And, though I was a soul in pain,
My pain I could not feel”

É o sofrimento que envolve e reflete a marcha errante dos homens, sua fraqueza, sua degradação; que revela, porém, a indigência que é a “falta de indigência”, a condenação que é a ausência de condenação, o assassínio cotidiano pela besta humana do homem sem peculiaridades. Porque o homem bom, o bonus pater familiae, é também um indigente e um condenado, mas porque sofre da pior indigência, como o lembra Heidegger, será a mão que acorrenta e aprisiona, que tortura e mata, metodicamente, a fim de que, enforcado após enforcado, possa apagar-se da vista a irmandade que a pretores e réus arrasta no mesmo torvelinho; porque ele, o bom homem,

“He does not die a death of shame
On a day of dark disgrace”

A Justiça Humana parece ser, assim, o que assenta cada qual em seu lugar. O que a cada um retribui, não conforme sua natureza, mas meramente ao ato. O que farão a este homem que matara aquela a quem amava, que já reconciliará crime e castigo no mesmo ato, nada tem a ver com retribuição, justiça ou direito. Dele quererão tirar toda a humanidade, todo traço que assemelhe sua caminhada sombria para o cadafalso ao passeio monótono do bom homem. Longe estará, para o condenado, a própria morte como sofrimento; ao contrário, cada dia seu será de agonia e sofrimento, sepultado vivo numa cela sem esperança de liberdade e vida, até que o que pereça sob o cordão do carrasco não seja mais que a sombra do sofrimento humano.

O destino desse homem, porém, contrasta com a vida que a proximidade do fim faz expandir com mais intensidade. O homem próximo da morte, metodicamente aproximado da morte por aqueles que sonhavam e sonham poder controlar a vida de seus quartos almofadados, é um homem revelado. Seu ser é ser-para-a-morte, não como um conceito vazio da elucubração existencialista, mas como fato: ele caminha para a morte e a morte se apodera de cada traço de sua existência; a cela escura é seu primeiro túmulo; o capelão, o xerife, o diretor, o médico são personificações de seu calvário. E, no entanto, é nele que a vida se manifesta como maior altivez:


Eu nunca homem vi que contemplasse
Com tão embevecido olhar,
Aquela pequenina tenda azul
Que os presos chamam firmamento,
E toda errante nuvem que passava
Com suas velas prateadas.”
***

Nenhum comentário :