Goya. Tristes pressentimentos. 1810-1814 |
Nascemos invisíveis sob o riso,
Nascemos invisíveis sob o choro:
Nosso choro e vosso riso:
Em tudo iguais,
iguais a todos.
Vivemos invisíveis sobre o asfalto,
Sobre os cavalos
- Maravilhosos monstros mecânicos -;
Sob o tetos e sem tetos,
Entre paredes, nus e exaustos.
Governamos a velocidade e a força,
A altura, a profundidade, a doença;
Governamos a vida e a morte.
Governe
a vida
a morte
Desgovernados, gritamos à noite:
Vozes de fantasmas invisíveis, somos.
Descremos de tudo:
Quem acredita em fantasmas
Quando já passou o tempo da infância?
Somos invisíveis nos olhos,
Somos invisíveis no espelho;
Invisíveis no reflexo,
Invisíveis na imagem
À imagem que nos governa.
"Teus olhos são a luz do teu corpo"
Mas também tenho um corpo
E não o vejo;
Mas também tenho um corpo
que não é visto.
Porque também tenho olhos
que não veem.
Há uma silhueta sob a meia-luz
Onde o florescente dia
se retrai:
Era um deus
no centro do mundo.
Deuses fomos naquele dia.
Há uma forma indiferente na penumbra:
É a imagem de um homem louco
- pobre diabo alienado,
risonho
bizarro!
Ai dos que são vistos!
Ai dos que são vistos
quando todos veem!
Todos os olhos invisíveis.
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