Magritte. Jeune fille mangeant un oiseau (Le Plaisir). 1927 |
Nós os poetas menores,
Os que jamais serão lembrados,
Ou que, desconhecidos de si mesmos,
Têm os olhos silenciosos,
Sentamo-nos ao fundo
Quando um poeta temeroso
Tira as palavras da cartola.
Não, não somos mágicos.
Somos antes palhaços
Entristecidos.
E nosso riso, e nosso escárnio;
Alguma indiferença no aplauso;
Alguma inveja, algum rancor:
Todo os cinismo nosso de cada dia
É o verso dos que não tem verso
É a ode triunfal dos fracassados;
Dos que não querem,
A poesia.
Dos que não podem,
Co'a
poesia.
Dos que não devem
Nada
à poesia.
Deuses todos, musas adormecidas!
Quem, nesse tempo férreo e cinza,
Surdo a flores e cactos
Criminosamente insensível
Ao desejo dos sonhos,
Quererá poesia?
Os peixes que preferem sermões
Ou os vermes ansiosos de memórias?
A uns e outros a prosa apetece
E a poesia esnobam.
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