/> Πρωτεύς: 2013

14 de maio de 2013

Stefan George - Lieder VIII

Rubens. Retrato de Helena Fourment. 1636-38


Wenn ich heut nicht deinen lieb berühre
Wird der faden meiner seeler reissen
Wir zu sehr gespannte sehne.
Liebe zeichen seien trauerflöre
Mit der leidet seit ich dir gehöre.
Richte ob mir solche qual gebühre
Kühlung sprenge mir dem fieberheissen
Der ich wanked draussen lehne.

***

Se eu hoje teu corpo não tocar
Romperá o fio de minha alma
Como nervo distendido.
Carícia é a fúnebre flor
Ao sofredor sem amor.
A injusta pena manda sustar
Suave brisa a febre alta acalma
Que estou em como estendido.

(tradução de Eduardo de Campos Valadares)


28 de abril de 2013

Sousândrade - Ouvindo







Ouvindo a voz bela,
Da estrela, os fulgores
Diriam, tremiam
Nos seios do céu:
Seduzem aos sábios
Os lábios que as flores
De um canto d'encanto
Lhes dão, qual o teu.

(1861)

27 de abril de 2013

Hemingway e Gellhorn

Hemingway e Gellhorn é um bom filme para quem ama o cinema, romances reais e complexos.  Dirigido por Phillip Kauffman, com a fotografia de Rogier Stoffers, a obra reconstrói a conturbada aventura amorosa do escritor Ernest Hemingway (Clive Owen) e da correspondente de guerra Martha Gellhorn (Nicole Kidman).

Devo começar pelo final esse breve comentário? Todos os que conhecem Hemingway já conhecem seu fim e a ignorância sobre Gellhorn, de quem quase todos sabem somente que foi a terceira esposa do escritor americano, já antecipa seu fim trágico. Não é surpresa. Que não se espere finais felizes em histórias que foram roubadas à vida. O que é de fato interessante neste filme não é seu final trágico, mas a tragédia que o percorre do início ao fim: a impossibilidade da felicidade.

Certo. Acreditamos no amor. Acreditamos que o amor nos trará a felicidade; temos direito de busca-lo, mas é quando essa busca se converte de cada vez numa peripécia que converte o prazer em dor, a proximidade em distância, o paraíso tropical prometido no inferno sujo da vulgaridade, é que nos damos conta de que tais belas possibilidades foram ali, justamente ao redor da vida das pessoas de inteligência e talento, cultivadas por algum demônio traiçoeiro. Para tais pessoas, como Hemingway e Gellhorn, o amor é a armadilha que os reconduz a seus limites, quer seja a glória insuportável ou a mediocridade desejada.

Hemingway, que sabemos, era assombrado pelo suicídio do pai deixará escapar a possibilidade da felicidade pelo orgulho, presunção e brutalidade que o tornarão a figura máxima de um intelecto viril num mundo de intelectuais sensíveis; incapaz de mudar, de abrir-se, de arriscar-se nas mãos de uma mulher que, contudo o arrebatava; reduzido a si mesmo e, por fim, ao silêncio da glória, será a última vítima do caçador que era ele próprio. O suicídio é de fato uma herança de família.

Gellhorn, assim nos conta o filme e nada sei de fato de sua vida que me pudesse fazer julgar que seja diferente, contará sua vida – é o mote da película – desde uma melancólica e solitária velhice prestes a mergulhar no esquecimento. Tenho verdadeiro horror a filmes narrados, mas devo confessar que este tem um diferencial: o discurso que acompanha a história é justamente aquele, dizendo a história, a recusa. Gellhorn não suporta a ideia de ser “uma nota de rodapé”, como diz ela própria, na vida de outra pessoa. Mas o que é a sua entrevista senão a confirmação desse fato? “Hemingway e Gellhorn” não é apenas o título de uma história de amor, mas o nome da aflição que atravessa a voz da autobiografia de uma sombra.  

O que é incrível – ao menos foi meu sentimento pessoal – é que, ao fim, tão envolvidos estamos pela aflição dessa voz de sombra, condenada ao quase esquecimento, não fosse justamente pelo que a aflige, desperta uma compaixão maior que o destino do próprio Hemingway.

Tamanha é essa infelicidade de estar a sombra do ex-marido que pouco acrescento à infelicidade de Martha o fato de que ela tomou o mesmo caminho de Hemingway já quando, depois de ter presenciado quase todos os grandes conflitos do século XX, cega e atormentada pelo câncer, desistiu da dor aos 89 anos. 

Para um filme feito para a TV, creio que a produção tem mais virtudes que vícios. Tem algo de bruto, seco, descarnado e aflitivo como a prosa e a vida de Hamingway.

Post Scriptum: A participação de Rodrigo Santoro não deixa dúvida de que esse que já foi uma das promessas do cinema brasileiro se converteu em pouco mais que um figurante costumeiro nos EUA. Pouco convincente, sua atuação é quase tão desnecessária ao enredo quanto o personagem que encarna.

Remorso

Edvard Munch. Dispair. 1894

E porque amar queremos...

E é porque amar queremos,
Perdidamente,
Que nos esquecemos
                                 dos obstáculos
                                 dos fracassos
                                 das fraquezas
Toda vaga de impossibilidade
Que cerca e arrasta
O paraíso artificial do sonho
À vala comum do remorso.

Ouçam todos que não amaram:
Por querer amar é que nos perdemos.
Por querer amar tudo se perde
Mesmo quando, e sobretudo,
 “tudo” é o que não se têm:

O tempo que se esvai;
Ou a imagem da lua
- astro frio e morto -;
A vontade de permanecer o mesmo,
De ser homem absorto na vida,
Jogado ao pó e à piedade,
Mortal entre os mortais:
Um louco a guiar a nau dos tolos.  

26 de abril de 2013

Ludwig Uhland - Der schwarze Ritter


Pfingsten war, das Fest der Freude,
Das da feiern Wald und Heide.
Hub der König an zu sprechen:
»Auch aus den Hallen
Der alten Hofburg allen
Soll ein reicher Frühling brechen!«

Trommeln und Trommeten schallen,
Rote Fahnen festlich wallen.
Sah der König vom Balkone;
In Lanzenspielen
Die Ritter alle fielen
Vor des Königs starkem Sohne.

Aber vor des Kampfes Gitter
Ritt zuletzt ein schwarzer Ritter.
»Herr! wie ist Eur Nam und Zeichen?«
»Würd ich es sagen,
Ihr möchtet zittern und zagen,
Bin ein Fürst von großen Reichen.«

Als er in die Bahn gezogen,
Dunkel ward des Himmels Bogen,
Und das Schloß begann zu beben.
Beim ersten Stoße
Der Jüngling sank vom Rosse,
Konnte kaum sich wieder heben.

Pfeif und Geige ruft zu Tänzen,
Fackeln durch die Säle glänzen;
Wankt ein großer Schatten drinnen.
Er tät mit Sitten
Des Königs Tochter bitten,
Tät den Tanz mit ihr beginnen.

Tanzt im schwarzen Kleid von Eisen,
Tanzet schauerliche Weisen,
Schlingt sich kalt um ihre Glieder.
Von Brust und Haaren
Entfallen ihr die klaren
Blümlein welk zur Erde nieder.

Und zur reichen Tafel kamen
Alle Ritter, alle Damen.
Zwischen Sohn und Tochter innen
Mit bangem Mute
Der alte König ruhte,
Sah sie an mit stillem Sinnen.

Bleich die Kinder beide schienen;
Bot der Gast den Becher ihnen:
»Goldner Wein macht euch genesen.«
Die Kinder tranken,
Sie täten höflich danken:
»Kühl ist dieser Trunk gewesen.«

An des Vaters Brust sich schlangen
Sohn und Tochter; ihre Wangen
Täten völlig sich entfärben.
Wohin der graue,
Erschrockne Vater schaue,
Sieht er eins der Kinder sterben.

»Weh! die holden Kinder beide
Nahmst du hin in Jugendfreude,
Nimm auch mich, den Freudelosen!«
Da sprach der Grimme
Mit hohler, dumpfer Stimme:
»Greis! im Frühling brech ich Rosen. «

25 de abril de 2013

Shakespeare - The Merchant of Venice

"To bait fish withal: if it will feed nothing else, it will feed my revenge. He hath disgrac'd me and hind'red me half a million; laugh'd at my losses, mock'd at my gains, scorned my nation, thwarted my bargains, cooled my friends, heated mine enemies. And what's his reason? I am a Jew. Hath not a Jew eyes? Hath not a Jew hands, organs, dimensions, senses, affections, passions, fed with the same food, hurt with the same weapons, subject to the same diseases, healed by the same means, warmed and cooled by the same winter and summer, as a Christian is? If you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh? If you poison us, do we not die? And if you wrong us, shall we not revenge? If we are like you in the rest, we will resemble you in that. If a Jew wrong a Christian, what is his humility? Revenge. If a Christian wrong a Jew, what should his sufferance be by Christian example? Why, revenge. The villaiy you teach me I will execute; and it shall go hard but I will better the instruction." (Act III, Scene 1)

24 de abril de 2013

Auto-retrato



Van Gogh. Auto-retrato com a orelha cortada. 1889


Sobretudo


Ainda sou

Apenas o

Mineiro

Escavando

Um túmulo
Paciente. 

22 de abril de 2013

Alberto Caeiro - Se eu morrer novo

Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva —
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo (E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão —
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído.

19 de abril de 2013

Poesia Menor

Magritte. Jeune fille mangeant un oiseau (Le Plaisir). 1927

Nós os poetas menores,

Os que jamais serão lembrados,
Ou que, desconhecidos de si mesmos,
Têm os olhos silenciosos,
Sentamo-nos ao fundo
Quando um poeta temeroso
Tira as palavras da cartola.

Não, não somos mágicos.
Somos antes palhaços
Entristecidos.

E nosso riso, e nosso escárnio;
Alguma indiferença no aplauso;
Alguma inveja, algum rancor:
Todo os cinismo nosso de cada dia

É o verso dos que não tem verso
É a ode triunfal dos fracassados;
Dos que não querem,
                                   A poesia.
Dos que não podem,
                                   Co'a poesia.
Dos que não devem
                                   Nada à poesia.
                                                                                 
Deuses todos, musas adormecidas!
Quem, nesse tempo férreo e cinza,
Surdo a flores e cactos
Criminosamente insensível
Ao desejo dos sonhos,
Quererá poesia?

Os peixes que preferem sermões
Ou os vermes ansiosos de memórias?

A uns e outros a prosa apetece
E a poesia esnobam.   

17 de abril de 2013

Hölderlin - Empedokles




Das Leben suchst du, suchst, und es quillt und glänztEin göttlich Feuer tief aus der Erde dir,
Und du in schauderndem Verlangen
Wirfst dich hinab, in des Ätna Flammen.

So schmelzt' im Weine Perlen der Übermut
Der Königin; und mochte sie doch! hättest du
Nur deinen Reichtum nicht, o Dichter,
Hin in den gärenden Kelch geopfert!

Doch heilig bist du mir, wie der Erde Macht,
Die dich hinwegnahm, kühner Getöteter!
Und folgen möcht ich in die Tiefe,
Hielte die Liebe mich nicht, dem Helden.

16 de abril de 2013

Deus e o diabo na terra do sol I: Um filme, duas revoluções



O ano é 1964; o Brasil torna-se ´palco de duas revoluções: a militar, que pouco a pouco se estende porDeus e o diabo na terra do sol.toda a América do Sul e a do cinema novo; é o ano da queda (fuga) de Jango e da ascensão de Glauber Rocha. É verdade que o cinema novo já era então um movimento consolidado e que golpismo militar vinha se ensaiando no Brasil e alhures h bem umas décadas, mas isso não tira a importância dos eventos de 64. Deixemos de lado a política, ou melhor, deixemo-la ao fundo, que é o seu lugar, para tratarmos de um filme que me parece grande entre os grandes,

Quando Deus e o diabo é lançado, Glauber, que se lançara ao cinema com o curta Pátio, já havia rodado o longa Barravento e posteriormente ainda será o responsável por grandes realizações do cinema brasileiro como Terra em transe. Mas, penso eu, é ainda o filme de 64 a expressão máxima do gênio maldito do cineasta baiano. Nele se expressa, com todo vigor e arte, as
oposições que encontram nas periferias do mundo (geográfico, político, existencial) o canteiro fértil donde florescer. Oposições sim, não contradições, não dialética. Faz pouco caso da arte e do gênio que recorre a superficial lógica do marxismo para explicar as obras de Glauber.

Entender Deus e o diabo consiste em responder três perguntas: que deus é esse? Que diabo? E que terra é essa, a terra do sol? Este é o exercício que vos proponho, caros leitores, e o convite que vos faço: lancemos um novo olhar sobre esta obra de arte soterrada pelas ideologias fáceis e idealismos ultrapassados.



Assista ao filme:




Assista ao primeiro curta-metragem de Glauber Rocha:




15 de abril de 2013

A propósito da distância

Corot. Orphée remenant Eurtdice des enfers, 1861

Fingiremos juntos
Que estamos juntos;
Juntos, um ao outro?

Fingiremos que a imagem é presença
Que a voz é presença
                           Que a palavra o é?

Fingiremos que através da máquina
Dos bytes, da voz, da imagem
A palavra carrega ainda um coração?

E por que não?
Se já fingimos antes
Finjamos também agora;

Se fábula daqueles dias
Que da memória se arredam  
Fossem mais que a fugaz aventura do desejo
Não teria pudor em tudo desdizer

Tudo contradizer
                            Tudo cegar
                                               Tudo esquecer.

Já acreditamos uma vez
Creiamos de novo
                             Criemos o novo
Finjamos juntos
                             Fujamos juntos.

14 de abril de 2013

Sophocles - Oedipus Tyrannus


      ΧΟΡΟΣ
Kylix. Edipo e a Esfinge. 470 a.C

      Στροφή α΄

      Αλλοί σας γενεές θνητών,
      πως η ζωή σας τίποτε, τίποτε δεν αξίζει!
      Ποιος τάχα, ποιος θε να ’ν’ αυτός
      ο ζηλεμένος ο θνητός,που πιότερη ευτυχία φέρει
      παρ’ όσηνε χρειάζεται
      ευτυχισμένος να φανή,
      κι έπειτα στην κακομοιριά να πέση;
      Τη δική σου πέρνοντας εγώ
      παράδειγμα την τύχην,
      δυστυχισμένε Οιδίπου,
      κανέναν δεν καλοτυχίζω.

      Αντιστροφή α΄

      Εσέ, που τη σαΐττα σου
      μακριά σωστά την έσυρες
      κι εκέρδισες την πάσαν ευτυχία,
      -Ω Ζευ--αφού πρώτα κατέστρεψες
      το τέρας το νυχάτο
      που ετραγουδούσ’ αινίγματα,
      και που τας Θήβας έσωσες
      απ’ τους πολλούς θανάτους·
      γι’ αυτό και βασιλιάς έγεινες
      του τόπου μας και πολυτιμημένος
      εστάθης, βασιλεύοντας στη γη τη δοξασμένη.

      Στροφή β΄

      Τώρα ποιος είναι δυστυχής
      πιότερον από σένα,
      ποιόν αγριώτερα δεινά
      και συμφορές ακολουθούν
      τώρα στην αλλαγή του βίου;
      Αλλοίμονον! Του Οιδίποδος
      κεφάλι πολυτιμημένο,
      που το ίδιο το λιμάνι
      σου ’φθασε μέσα του ν’ αράξης
      πατέρας, σύζυγος, παιδί.
      Πώς τέλος πάντων, άμοιρε,
      το πατρικό κρεββάτι
      σιωπηλόν ημπόρεσε να σε βαστάξη
      τόσον καιρό, τόσον καιρό;

      Αντιστροφή β΄

      Ο χρόνος σ’ εφανέρωσεν, εκείνος όπου όλα
      ξέρει να φανερώνη·
      τον γάμον τον αποτρόπαιον,
      που σπάρθηκες και που ’σπειρες,
      αυτός καταδικάζει.
      Αλλοί σου του Λαΐου, τέκνο δύστυχο,
      άμποτε να μη σ’ έβλεπα!
      Δέρνομαι και μυρολογώ
      και γόους αφήνω από το στόμα.
      Όμως από σε σώθηκεν
      η πόλις από τα δεινά
      κ’ ημπόρεσα να κλείσω μάτι.

13 de abril de 2013

Sousândrade - Qui Sum


 
                           Par droit de conquête et
                                   par droit de naissance
                                                           Voltaire

Sou depredador das graças,

Rapinário das estrelas:
Onde florejem as belas,
Eu sou cidadão dali:
Aos meus pés quero o oiro em ondas,
Príncipe eu sou do Levante,
Tenho direito ao diamante,
Tenho-o à esmeralda, ao rubi:

Tenho-o às pérolas algentes,
A luz, ao fogo, às centelhas;
Vivo do mel das abelhas,
Vivo da glória e do amor:
Porque sou eu que em menino
Sofri todas as misérias,
E dos céus chovem etéreas
Bênçãos ao órfão de dor.

E sabereis, meus senhores,
Que é do grande sofrimento
Que se forma o sentimento
A que chamais sedução:
Nada fez, senão divino
Ser, o meigo da piedade,
Qual quem dos céus tem saudade.
– E como o culpar, então?

Eu sou o Americano sem títulos
Que derriba imperadores;
Sou o Guesa, e para amores
Tenho o meu do sol.

12 de abril de 2013

Poe - The Raven


Once upon a midnight dreary, while I pondered weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
`'Tis some visitor,' I muttered, `tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more.'

Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow; - vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow - sorrow for the lost Lenore -
For the rare and radiant maiden whom the angels named Lenore -
Nameless here for evermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me - filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating
`'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door -
Some late visitor entreating entrance at my chamber door; -
This it is, and nothing more,'

Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
`Sir,' said I, `or Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you' - here I opened wide the door; -
Darkness there, and nothing more.


Sheldon. Edgar Allan Poe
Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the darkness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, `Lenore!'
This I whispered, and an echo murmured back the word, `Lenore!'
Merely this and nothing more.

Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping somewhat louder than before.
`Surely,' said I, `surely that is something at my window lattice;
Let me see then, what thereat is, and this mystery explore -
Let my heart be still a moment and this mystery explore; -
'Tis the wind and nothing more!'

Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door -
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door -
Perched, and sat, and nothing more.







Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
`Though thy crest be shorn and shaven, thou,' I said, `art sure no craven.
Ghastly grim and ancient raven wandering from the nightly shore -
Tell me what thy lordly name is on the Night's Plutonian shore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,


Though its answer little meaning - little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber door -
Bird or beast above the sculptured bust above his chamber door,
With such name as `Nevermore.'

But the raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only,
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered - not a feather then he fluttered -
Till I scarcely more than muttered `Other friends have flown before -
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before.'
Then the bird said, `Nevermore.'

Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
`Doubtless,' said I, `what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master whom unmerciful disaster
Followed fast and followed faster till his songs one burden bore -
Till the dirges of his hope that melancholy burden bore
Of "Never-nevermore."'

But the raven still beguiling all my sad soul into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore -
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking `Nevermore.'

This I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamp-light gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamp-light gloating o'er,
She shall press, ah, nevermore!


Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
`Wretch,' I cried, `thy God hath lent thee - by these angels he has sent thee
Respite - respite and nepenthe from thy memories of Lenore!
Quaff, oh quaff this kind nepenthe, and forget this lost Lenore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil! -
Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted -
On this home by horror haunted - tell me truly, I implore -
Is there - is there balm in Gilead? - tell me - tell me, I implore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil!
By that Heaven that bends above us - by that God we both adore -
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels named Lenore -
Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels named Lenore?'
Quoth the raven, `Nevermore.'





`Be that word our sign of parting, bird or fiend!' I shrieked upstarting -
`Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken! - quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!'
Quoth the raven, `Nevermore.'

And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor

Shall be lifted - nevermore!

***
Eis aqui o poema de Poe na belíssima leitura do grande ator americano Vincent Price. Esta adaptação foi feita em 1963 sob a direção de Roger Corman.



***

Para o português, contamos com a inigualável tradução de Machado de Assis:

"O Corvo"


Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!



11 de abril de 2013

Mallarmé - Le tombeau d'Edgar Poe


Manet. Stéphane Mallarmé, 1876

Tel qu’en Lui-même enfin l’éternité le change,
Le Poète suscite avec un glaive nu
Son siècle épouvanté de n’avoir pas connu
Que la mort triomphait dans cette voix étrange !



Eux, comme un vil sursaut d’hydre oyant jadis l’ange
Donner un sens plus pur aux mots de la tribu
Proclamèrent très haut le sortilège bu
Dans le flot sans honneur de quelque noir mélange.





Sheldon. Edgar Allan Poe


Du sol et de la nue hostiles, ô grief !
Si notre idée avec ne sculpte un bas-relief
Dont la tombe de Poe éblouissante s’orne



Calme bloc ici-bas chu d’un désastre obscur,
Que ce granit du moins montre à jamais sa borne
Aux noirs vols du Blasphème épars dans le futur.

10 de abril de 2013

Somos invisíveis

Goya. Tristes pressentimentos. 1810-1814

Nascemos invisíveis sob o riso,
Nascemos invisíveis sob o choro:
Nosso choro e vosso riso:
Em tudo iguais,
                       iguais a todos.

Vivemos invisíveis sobre o asfalto,
Sobre os cavalos
- Maravilhosos monstros mecânicos -;
 Sob o tetos e sem tetos,
Entre paredes, nus e exaustos.

Governamos a velocidade e a força,
A altura, a profundidade, a doença;
                       Governamos a vida e a morte.
Governe
                                           a vida
                                                        a morte

Desgovernados, gritamos à noite:
Vozes de fantasmas invisíveis, somos.

Descremos de tudo:
                               Quem acredita em fantasmas
Quando já passou o tempo da infância?

Somos invisíveis nos olhos,
Somos invisíveis no espelho;
                                          Invisíveis no reflexo,
Invisíveis na imagem
                               À imagem que nos governa.

"Teus olhos são a luz do teu corpo"

Mas também tenho um corpo
                                            E não o vejo;
Mas também tenho um corpo
                                            que não é visto.
Porque também tenho olhos
                                            que não veem.

Há uma silhueta sob a meia-luz
             Onde o florescente dia
se retrai:
             Era um deus
no centro do mundo.
Deuses fomos naquele dia.

Há uma forma indiferente na penumbra:
É a imagem de um homem louco
- pobre diabo alienado,
                                 risonho
                                 bizarro!

Ai dos que são vistos!
        Ai dos que são vistos
                                quando todos veem!

Todos os olhos invisíveis.


4 de abril de 2013

Camões - Soneto III

Carl Spitzweg, O poeta pobre, 1835
Com grandes esperanças ja cantei,
Com que os deoses no Olympo conquistára;
Depois vim a chorar porque cantára,
E agora chóro ja porque chorei.

  Se cuido nas passadas que ja dei,
Custa-me esta lembrança só tão cara,
Que a dor de ver as mágoas que passára,
Tenho por a mór mágoa que passei.

  Pois logo, se está claro que hum tormento
Dá causa que outro na alma se accrescente,
Ja nunca posso ter contentamento.

  Mas esta phantasia se me mente?
Oh ocioso e cego pensamento!
Ainda eu imagino em ser contente?

1 de abril de 2013

Propércio - Carmina XIV

TV licet abiectus Tiberina molliter unda     
Vinchon. Propertius et Cynthia 
      Lesbia Mentoreo uina bibas opere,
  et modo tam celeres mireris currere lintres
      et modo tam tardas funibus ire ratis;
  et nemus omne satas intendat uertice siluas,
      urgetur quantis Caucasus arboribus;
  non tamen ista meo ualeant contendere amori:
      nescit Amor magnis cedere diuitiis.
  nam siue optatam mecum trahit illa quietem,
      seu facili totum ducit amore diem,
  tum mihi Pactoli ueniunt sub tecta liquores,
      et legitur Rubris gemma sub aequoribus;
  tum mihi cessuros spondent mea gaudia reges:
      quae maneant, dum me fata perire uolent!
  nam quis diuitiis aduerso gaudet Amore?
      nulla mihi tristi praemia sint Venere!
  illa potest magnas heroum infringere uires,
      illa etiam duris mentibus esse dolor:
  illa neque Arabium metuit transcendere limen
      nec timet ostrino, Tulle, subire toro
  et miserum toto iuuenem uersare cubili:
      quid releuant uariis serica textilibus?
  quae mihi dum placata aderit, non ulla uerebor
      regna uel Alcinoi munera despicere.

25 de março de 2013

Alberto Caeiro - O Mistério das Coisas



Há Metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa. 
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?
"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo" ...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas,
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum. 


Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De que, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,

Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

22 de março de 2013

Valery - Le cimetière marin

Paul Valery

Ce toit tranquille, où marchent des colombes,
Entre les pins palpite, entre les tombes;
Midi le juste y compose de feux
La mer, la mer, toujours recommencée
O récompense après une pensée
Qu'un long regard sur le calme des dieux!

Quel pur travail de fins éclairs consume
Maint diamant d'imperceptible écume,
Et quelle paix semble se concevoir!
Quand sur l'abîme un soleil se repose,
Ouvrages purs d'une éternelle cause,
Le temps scintille et le songe est savoir.

Stable trésor, temple simple à Minerve,
Masse de calme, et visible réserve,
Eau sourcilleuse, Oeil qui gardes en toi
Tant de sommeil sous une voile de flamme,
O mon silence! . . . Édifice dans l'âme,
Mais comble d'or aux mille tuiles, Toit!

Temple du Temps, qu'un seul soupir résume,
À ce point pur je monte et m'accoutume,
Tout entouré de mon regard marin;
Et comme aux dieux mon offrande suprême,
La scintillation sereine sème
Sur l'altitude un dédain souverain.

Comme le fruit se fond en jouissance,
Comme en délice il change son absence
Dans une bouche où sa forme se meurt,
Je hume ici ma future fumée,
Et le ciel chante à l'âme consumée
Le changement des rives en rumeur.

Beau ciel, vrai ciel, regarde-moi qui change!
Après tant d'orgueil, après tant d'étrange
Oisiveté, mais pleine de pouvoir,
Je m'abandonne à ce brillant espace,
Sur les maisons des morts mon ombre passe
Qui m'apprivoise à son frêle mouvoir.

L'âme exposée aux torches du solstice,
Je te soutiens, admirable justice
De la lumière aux armes sans pitié!
Je te tends pure à ta place première,
Regarde-toi! . . . Mais rendre la lumière
Suppose d'ombre une morne moitié.

O pour moi seul, à moi seul, en moi-même,
Auprès d'un coeur, aux sources du poème,
Entre le vide et l'événement pur,
J'attends l'écho de ma grandeur interne,
Amère, sombre, et sonore citerne,
Sonnant dans l'âme un creux toujours futur!

Sais-tu, fausse captive des feuillages,
Golfe mangeur de ces maigres grillages,
Sur mes yeux clos, secrets éblouissants,
Quel corps me traîne à sa fin paresseuse,
Quel front l'attire à cette terre osseuse?
Une étincelle y pense à mes absents.

Fermé, sacré, plein d'un feu sans matière,
Fragment terrestre offert à la lumière,
Ce lieu me plaît, dominé de flambeaux,
Composé d'or, de pierre et d'arbres sombres,
Où tant de marbre est tremblant sur tant d'ombres;
La mer fidèle y dort sur mes tombeaux!

Chienne splendide, écarte l'idolâtre!
Quand solitaire au sourire de pâtre,
Je pais longtemps, moutons mystérieux,
Le blanc troupeau de mes tranquilles tombes,
Éloignes-en les prudentes colombes,
Les songes vains, les anges curieux!

Ici venu, l'avenir est paresse.
L'insecte net gratte la sécheresse;
Tout est brûlé, défait, reçu dans l'air
A je ne sais quelle sévère essence . . .
La vie est vaste, étant ivre d'absence,
Et l'amertume est douce, et l'esprit clair.

Les morts cachés sont bien dans cette terre
Qui les réchauffe et sèche leur mystère.
Midi là-haut, Midi sans mouvement
En soi se pense et convient à soi-même
Tête complète et parfait diadème,
Je suis en toi le secret changement.

Tu n'as que moi pour contenir tes craintes!
Mes repentirs, mes doutes, mes contraintes
Sont le défaut de ton grand diamant! . . .
Mais dans leur nuit toute lourde de marbres,
Un peuple vague aux racines des arbres
A pris déjà ton parti lentement.

Ils ont fondu dans une absence épaisse,
L'argile rouge a bu la blanche espèce,
Le don de vivre a passé dans les fleurs!
Où sont des morts les phrases familières,
L'art personnel, les âmes singulières?
La larve file où se formaient les pleurs.

Les cris aigus des filles chatouillées,
Les yeux, les dents, les paupières mouillées,
Le sein charmant qui joue avec le feu,
Le sang qui brille aux lèvres qui se rendent,
Les derniers dons, les doigts qui les défendent,
Tout va sous terre et rentre dans le jeu!

Et vous, grande âme, espérez-vous un songe
Qui n'aura plus ces couleurs de mensonge
Qu'aux yeux de chair l'onde et l'or font ici?
Chanterez-vous quand serez vaporeuse?
Allez! Tout fuit! Ma présence est poreuse,
La sainte impatience meurt aussi!

Maigre immortalité noire et dorée,
Consolatrice affreusement laurée,
Qui de la mort fais un sein maternel,
Le beau mensonge et la pieuse ruse!
Qui ne connaît, et qui ne les refuse,
Ce crâne vide et ce rire éternel!

Pères profonds, têtes inhabitées,
Qui sous le poids de tant de pelletées,
Êtes la terre et confondez nos pas,
Le vrai rongeur, le ver irréfutable
N'est point pour vous qui dormez sous la table,
Il vit de vie, il ne me quitte pas!

Amour, peut-être, ou de moi-même haine?
Sa dent secrète est de moi si prochaine
Que tous les noms lui peuvent convenir!
Qu'importe! Il voit, il veut, il songe, il touche!
Ma chair lui plaît, et jusque sur ma couche,
À ce vivant je vis d'appartenir!

Zénon! Cruel Zénon! Zénon d'Êlée!
M'as-tu percé de cette flèche ailée
Qui vibre, vole, et qui ne vole pas!
Le son m'enfante et la flèche me tue!
Ah! le soleil . . . Quelle ombre de tortue
Pour l'âme, Achille immobile à grands pas!

Non, non! . . . Debout! Dans l'ère successive!
Brisez, mon corps, cette forme pensive!
Buvez, mon sein, la naissance du vent!
Une fraîcheur, de la mer exhalée,
Me rend mon âme . . . O puissance salée!
Courons à l'onde en rejaillir vivant.

Oui! grande mer de délires douée,
Peau de panthère et chlamyde trouée,
De mille et mille idoles du soleil,
Hydre absolue, ivre de ta chair bleue,
Qui te remords l'étincelante queue
Dans un tumulte au silence pareil

Le vent se lève! . . . il faut tenter de vivre!
L'air immense ouvre et referme mon livre,
La vague en poudre ose jaillir des rocs!
Envolez-vous, pages tout éblouies!
Rompez, vagues! Rompez d'eaux réjouies
Ce toit tranquille où picoraient des focs!