/> Πρωτεύς: Poética V

4 de dezembro de 2009

Poética V

Είκώ δ̉έπενόει κιντόν τινα αίώνος ποιήνος
καί διακοσμών άμα ούρανος ποεϊ μενοντος
αίωνος έν ένί κατ΄ άριθμὸς ι̉οϋσαν αίώνιον
εικονα τούτον δή χρόνον ώνομάκαμεν. Platão

Por que as palavras não duram? Mesmos olhos e mesmas palavras se encontram somente uma vez, somente há um instante de puro gozo estético. Tudo que aqueles olhos puderem ver, verão nesse exato momento, nada lhes poderá ser acrescentado. Se a releitura se fizer imperiosa por razão de conveniência ou, pior, busca prefrustrada do prazer originário, a poesia mesma corre o risco de ser recoberta por opiniões e conceitos, no caso, igualmente alienadores do fenômeno estético. As palavras não duram em seu vigor próprio, porque o que vige desde o fundo de si mesmo não pode aparecer senão sob a mascara da natureza. Haverá, então, muita naturalidade no concatenar dos verbos e substâncias para que os olhos voltem a ad-mirá-los.

Parece que a ambivalência dessa physis despida do velho arcabouço das formas não se mostra tão sedutora, pois é justamente contra a natureza dos cometas que empenhamos nossas maiores formas. “Möch’t ich ein Komet seyn? Ich glaube. Denn sie haben/ Die Schnelligkeit der Vögel; sie bläuhen na Feuer/ Und sind wie Kinder an Reinheit.” — Esta mesma voz, porém, preferiu emudecer, descendo a abóboda como um cometa tão brilhante quanto prontamente arremessado às trevas. Mas este é o destino do cometa, porque o cometa tem a fisionomia do Dionísio, deus da alegria e das trevas. E de tantos quantos posso me lembrar, de tantos quantos foram os que assumiram essa natureza, mesmas foram também as trevas: loucura, silêncio e morte. Ficaríamos sob as barbas aprazíveis de Parmênedes, se pudéssemos. Ficaríamos sob o Sol, a venerá-lo, na clareira do mármore. Mas houve Heráclito...

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