/> Πρωτεύς

19 de novembro de 2010

O Terceiro Reino

Sim, meu amigo
Restou-nos o ópio, a erva, talvez,
E o vinho – assim faremos,
Pois no entorpecido sono não há correntes
E entre versos, devemos emudecer a revolta.

Escreverei à mulher que me espera
E direi que estou pronto: um néscio,
Um bom homem e perfeito tolo.
Porque sobre a poeira caíram os persas
E daquele Deus negro de Blake,
Completou-se o Terceiro Reino.

Por todo o tempo, que assim seja.
Porque, meu amigo, somos fracos.
Nos serviram pão e vinho. Era a paga
Por nosso sangue e nossa carne:
Se aceitamos... que seja assim!

17 de novembro de 2010

De Píndaro

Ah! Minha sombra!
Aí demoras impassível,
Tu que me segues; que
Dia e noite segues, através
Da poeira e do asfalto, um morto,
Filha do Hélio e do Iodo;

Fostes tu um negro espírito,
A outra, desconhecida, metade
Ou a terça parte de esquecimento que me cabe,
Lembrar-te-ia do sofrimento dessa carne:
O beijo áspero da traição, quando
Éramos jovens e o mundo antigo –
Fostes tu meu negro espírito,
Mais que a sombra de um corpo,
Que a sombra de uma sombra

14 de novembro de 2010

Poética XII

A poesia deve ser compreendida como uso extraordinário de uma certa linguagem que apela para o fundamento primeiro da expressão linguística: a criação. Cada linguagem cria um mundo paralelo e o próprio mundo da percepção ao qual julgamos comumente "real" é um entre os muitos mundos possíveis. Como bem compreendeu Nietzsche, o mundo humano é uma ficção, cujo caráter não-intencional e necessário em função da Vida, facilmente deixa-se enrredar na mitologia da verdade. Na construção desse mundo, coube a linguagem aperfeiçoar e, por vezes, hipostasiar as categorias ficcionais com as quais o ser humano moldou seu mundo. Do outro lado, cabe ao uso extraordinário da linguagem revelar a ficção como ficção, amparar a multiplicidade em face da coersitiva ilusão do Ser e do Mesmo.