/> Πρωτεύς: T. S. Eliot: Gerontion

15 de janeiro de 2012

T. S. Eliot: Gerontion


          
         Thou hast nor youth nor age
            But as it were an after dinner sleep
            Dreaming of both.
            (William Shakespeare, Measure for Measure,)


HERE I am, an old man in a dry month,          
Being read to by a boy, waiting for rain.          
I was neither at the hot gates   
Nor fought in the warm rain     
Nor knee deep in the salt marsh, heaving a cutlass,             
Bitten by flies, fought.  
My house is a decayed house, 
And the jew squats on the window sill, the owner,      
Spawned in some estaminet of Antwerp,         
Blistered in Brussels, patched and peeled in London.          
The goat coughs at night in the field overhead; 
Rocks, moss, stonecrop, iron, merds. 
The woman keeps the kitchen, makes tea,      
Sneezes at evening, poking the peevish gutter. 

                    I an old man,              
A dull head among windy spaces.       

Signs are taken for wonders. “We would see a sign”:  
The word within a word, unable to speak a word,       
Swaddled with darkness. In the juvescence of the year           
Came Christ the tiger          

In depraved May, dogwood and chestnut, flowering judas,     
To be eaten, to be divided, to be drunk          
Among whispers; by Mr. Silvero         
With caressing hands, at Limoges        
Who walked all night in the next room;        
By Hakagawa, bowing among the Titians;       
By Madame de Tornquist, in the dark room    
Shifting the candles; Fraulein von Kulp
Who turned in the hall, one hand on the door. Vacant shuttles 
Weave the wind. I have no ghosts,              
An old man in a draughty house          
Under a windy knob.  

After such knowledge, what forgiveness? Think now   
History has many cunning passages, contrived corridors          
And issues, deceives with whispering ambitions,                  
Guides us by vanities. Think now        
She gives when our attention is distracted        
And what she gives, gives with such supple confusions
That the giving famishes the craving. Gives too late      
What’s not believed in, or if still believed,                
In memory only, reconsidered passion. Gives too soon           
Into weak hands, what’s thought can be dispensed with          
Till the refusal propagates a fear. Think           
Neither fear nor courage saves us. Unnatural vices      
Are fathered by our heroism. Virtues           
Are forced upon us by our impudent crimes.   
These tears are shaken from the wrath-bearing tree.    

The tiger springs in the new year. Us he devours. Think at last 
We have not reached conclusion, when I        
Stiffen in a rented house. Think at last          
I have not made this show purposelessly         
And it is not by any concitation
Of the backward devils           
I would meet you upon this honestly.   
I that was near your heart was removed therefrom              
To lose beauty in terror, terror in inquisition.    
I have lost my passion: why should I need to keep it    
Since what is kept must be adulterated?          
I have lost my sight, smell, hearing, taste and touch:     
How should I use it for your closer contact?            

These with a thousand small deliberations        
Protract the profit of their chilled delirium,       
Excite the membrane, when the sense has cooled,       
With pungent sauces, multiply variety  
In a wilderness of mirrors. What will the spider do,             
Suspend its operations, will the weevil 
Delay? De Bailhache, Fresca, Mrs. Cammel, whirled  
Beyond the circuit of the shuddering Bear       
In fractured atoms. Gull against the wind, in the windy straits   
Of Belle Isle, or running on the Horn,          
White feathers in the snow, the Gulf claims,     
And an old man driven by the Trades  
To a a sleepy corner.  

                    Tenants of the house,      
Thoughts of a dry brain in a dry season.                  


*** 
"Não és jovem nem velho, / mas como, se após o jantar
adormecesses,/ Sonhando que ambos fosses.")

Eis-me aqui, um velho em tempo de seca,
Um jovem lê para mim, enquanto espero a chuva.
Jamais estive entre as ígneas colunas
Nem combati sob as centelhas de chuva
Nem de cutelo em punho, no salgado imerso até os joelhos,
Ferroado de moscardos, combati.
Minha casa é uma casa derruída,
E no peitoril da janela acocora-se o judeu, o dono,
Desovado em algum barzinho de Antuérpia, coberto
De pústulas em Bruxelas, remendado e descascado em Londres.
O bode tosse à noite nas altas pradarias;
Rochas, líquen, pão-dos-pássaros, ferro, bosta.
A mulher cuida da cozinha, faz chá,
Espirra ao cair da noite, cutucando as calhas rabugentas.
                                                 E eu, um velho,
Uma cabeça oca entre os vazios do espaço.
Tomaram-se os signos por prodígios: "Queremos um signo!"
A Palavra dentro da palavra, incapaz de dizer uma palavra,
Envolta nas gazes da escuridão. Na adolescência do ano
Veio Cristo, o tigre.
Em maio cqrrupto, cornisolo e castanha, noz das
    faias-da-judéia,
A serem comidas, bebidas, partilhadas
Entre sussurros; pelo Senhor Silvero
Com suas mãos obsequiosas e que, em Limoges,
No quarto ao lado caminhou a noite inteira;
Por Hakagawa, a vergar-se reverente entre os Ticianos;
Por Madame de Tornquist, a remover os castiçais
No quarto escuro, por Fraülein von Kulp,
A mão sobre a porta, que no vestíbulo se voltou.
    Navetas ociosas
Tecem o vento. Não tenho fantasmas,
Um velho numa casa onde sibila a ventania
Ao pé desse cômoro esculpido pelas brisas.
Após tanto saber, que perdão? Suponha agora
Que a história engendra muitos e ardilosos labirintos,
    estratégicos
Corredores e saídas, que ela seduz com sussurrantes ambições,
Aliciando-nos com vaidades. Suponha agora
Que ela somente algo nos dá enquanto estamos distraídos
E, ao fazê-lo, com tal balbúrdia e controvérsia o oferta
Que a oferenda esfaima o esfomeado. E dá tarde demais
Aquilo em que já não confias, se é que nisto ainda confiavas,
Uma recordação apenas, uma paixão revisitada. E dá cedo
    demais
A frágeis mãos. O que pensado foi pode ser dispensado
Até que a rejeição faça medrar o medo. Suponha
Que nem medo nem audácia aqui nos salvem. Nosso heroísmo
Apadrinha vícios postiços. Nossos cínicos delitos
Impõem-nos altas virtudes. Estas lágrimas germinam
De uma árvore em que a ira frutifica.
O tigre salta no ano novo. E nos devora. Enfim suponha
Que a nenhuma conclusão chegamos, pois que deixei
Enrijecer meu corpo numa casa de aluguel. Enfim suponha
Que não dei à toa esse espetáculo
E nem o fiz por nenhuma instigação
De demônios ancestrais. Quanto a isto,
É com franqueza o que te vou dizer.
Eu, que perto de teu coração estive, daí fui apartado,
Perdendo a beleza no terror, o terror na inquisição.
Perdi minha paixão: por que deveria preservá-la
Se tudo o que se guarda acaba adulterado?
Perdi visão, olfato, gosto, tato e audição:
Como agora utilizá-los para de ti me aproximar?
Essas e milhares de outras ponderações
Distendem-lhe os lucros do enregelado delírio,
Excitam-lhe a franja das mucosas, quando os sentidos esfriam;
Com picantes temperos, multiplicam-lhe espetáculos
Numa profusão de espelhos. Que irá fazer a aranha?
Interromper o seu bordado? O gorgulho
Tardará? De Bailhache, Fresca, Madame Cammel, arrastados
Para além da órbita da trêmula Ursa
Num vórtice de espedaçados átomos. A gaivota contra o vento
Nos tempestuosos estreitos da Belle Isle,
Ou em círculos vagando sobre o Horn,
Brancas plumas sobre a neve, o Golfo clama,
E um velho arremessado por alísios
A um canto sonolento.
                                                         Inquilinos da morada,
Pensamentos de um cérebro seco numa estação dessecada.

(tradução:  Ivan Junqueira)

Nenhum comentário :