Régnier. Allegory of vanity - Pandora. 1626 |
I
Não há livro eterno,
Eternamente escrito
Por uma mão eterna:
Não há romance do mundo
Que a mão da fatalidade
Conceba ou que sussurre
A voz do inevitável.
Mas, fora fatalidade a chuva?
O Dilúvio e a tempestade?
E eu mesmo – e o medo arredio?
O temor de nenhuma esperança?
Não fora fatalidade o desencontro
E o encontro furtivo do desencanto?
II
E o anjo veio perturbar-me o sono.
Armado de fogo imortal e cinzas
Sob os pés. Veio acender meus olhos;
Meus olhos desde muito quase apagados.
Deixou a árvore da vida no jardim do Éden;
Deixou a eternidade monótona da luz.
Veio estender-me o desvario e a fome,
- A fome que é de todo homem que vive –
Sorrindo, desaparecer noite adentro.
Será o anjo terrível da morte?
Amanhã já não serei mais o mesmo.
Pois esperei que a vida deitasse em meu colo.
E esperei, esperei... esperei.
Até o dia claro e o desespero.
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