/> Πρωτεύς: Salvador e Gala

20 de dezembro de 2011

Salvador e Gala



Ele disse: “os gênios não deveriam morrer!”.
Até o  maior gênio não sabe o que diz:
Já estava morto desde há muito,
Já estava há muito acabado;
O altar vazio de uma deusa corpórea,
O concreto retilíneo e sua réplica:
Não salva a si mesmo, o salvador.

Devaneio, sim!
Atravessa-me a noite o sonho fluído,
Lembrança, desejo, necessidade:
Que fossemos nós, como Gala e Salvador:
O gênio e a deusa corpórea do gênio.

Por isso, eu o entendo.
Porque todo homem ama três vezes.
Mas só o gênio ama tudo de uma vez,
Queima todos os ossos numa só fornalha.
E já não tem com que ficar de pé quando se apaga;
Breve ou duradouro que seja, o inferno que se apaga.

Todo menino ama uma criança, quando tudo ainda é jovem;
Morre. Morre quando apreende as linhas retas, euclidianas,
Os cálculos, o compasso, a retidão e o concreto.
Depois, ama todo homem a mulher a quem desposa,
Para quem calcula e trabalha as antigas linhas no concreto.
E morre. Morre quando fecham sobre si as paredes,
Tão sempre alva e meticulosamente descoradas.
Ama, por fim, a amante que o alimenta e o devora,
Que o faz renascer do concreto para enterrá-lo em si mesma.
Mas tudo ao seu tempo – é a secreta necessidade da vida.

Porque todo homem ama somente três vezes,
E três vezes tem de morrer.
Mas só o gênio ama tudo, completamente,
E tão completamente ama, quão completamente morre:
Já não possui o corpo? Abraça-o mais forte!
Está distante? na infinita distância de um palmo?
Toca-lhe os dedos!A ponta dos dedos
Que tudo recria, reacende e apaga.
Então, ele diz, em segredo, a si mesmo:
“Ainda vivo porque posso tocar seus dedos,
Migalha que seja da infância do paraíso”.