/> Πρωτεύς: dezembro 2011

20 de dezembro de 2011

Proust - Longtemps, je me suis couché de bonne heure

Proust em seu leito de morte
LONGTEMPS, je me suis couché de bonne heure. Parfois, à peine ma bougie éteinte, mes yeux se fermaient si vite que je n'avais pas le temps de me dire : « Je m'endors. » Et, une demi-heure après, la pensé equ'ilétait temps de chercher le sommeil m'éveillait; je voulais poser le volume que je croyai savoir encore dans les mains et souffler ma lumière; je n'avais pas cesse endormant de faire des réflexions sur ce que je venais de lire, mais ces réflexions avaient pris un tour um peu particulier; il me semblait que j'étais moi-même ce dont parlait l'ouvrage : une église, un quatuor, la rivalité de François Ier et de Charles-Quint. Cette croyance survivait pendant quelques secondes à mon réveil; elle ne choquait pas ma raison, mais pesait comme des écailles sur mes yeux et les empêchait de se rendre compte que le bougeoir n'était pas allumé. Puis elle commençaità me devenir inintelligible, comme après la métempsycose les pensées d'une existence antérieure; le sujet du livre se détachait de moi, j'étais libre de m'y appliquer ou non; aussitôt je recouvrais la vue et j'étais bien étonné de trouver autour de moi une obscurité, douce et repousante pour mes yeux, mais peut-être plus encore pour mon esprit, à qui elle apparaissait comme une chose sans cause, incompréhensible, comme une chose vraiment obscure. Je me demandais quelle heure il pouvait être; j'entendais le sifflement des trains qui, plus ou moins éloigné, comme le chant d'um oiseau dans une forêt, relevant les distances, me décrivait l'étendue de la campagne déserte ou le voyageur se hâte vers la station prochaine; et le petit chemin qu'il suit va êtr egravé dans son souvenir par l'excitation qu'il doit à des heux nouveaux, à des actes inaccoutumés, à la causerie récente et aux adieux sous la lampe étrangère qui le suivent encore dans le silence de la nuit, à la douceur prochaine du retour.

J'appuyais tendrement mes joues contre les belles joues de l'oreiller qui, pleines et fraîches, sont comme les joues de notre enfance. Je frottais une allumette pour regarder ma montre. Bientôt minuit. C'est l'instant où le malade qui a été obligé departir em voyage et a dû coucher dans um hotel inconnu, réveillé par une crise, se réjouit em apercevant sous la porte une raie de jour. Quel bonheur! c'est déjà le matin! Dans un moment les domestiques seront levés, il pourra sonner, on viendra lui porter secours. L'espérance d'être soulagé lui donne du courage pour souffrir. Justement il a cru entendre des pas; les pas se rapprochent, puis s'éloignent. Et la raie de jour qui était sous sa porte a disparu. C'est minuit; on vient d'éteindre le gaz; le dernier domestique est parti et il faudra rester toute la nuit à souffrir sans remède.

Marcel Proust. DU COTÉ DE CHEZ SWANN(A LA RECHERCHE DU TEMPS PERDU, vol. 1)

Salvador e Gala



Ele disse: “os gênios não deveriam morrer!”.
Até o  maior gênio não sabe o que diz:
Já estava morto desde há muito,
Já estava há muito acabado;
O altar vazio de uma deusa corpórea,
O concreto retilíneo e sua réplica:
Não salva a si mesmo, o salvador.

Devaneio, sim!
Atravessa-me a noite o sonho fluído,
Lembrança, desejo, necessidade:
Que fossemos nós, como Gala e Salvador:
O gênio e a deusa corpórea do gênio.

Por isso, eu o entendo.
Porque todo homem ama três vezes.
Mas só o gênio ama tudo de uma vez,
Queima todos os ossos numa só fornalha.
E já não tem com que ficar de pé quando se apaga;
Breve ou duradouro que seja, o inferno que se apaga.

Todo menino ama uma criança, quando tudo ainda é jovem;
Morre. Morre quando apreende as linhas retas, euclidianas,
Os cálculos, o compasso, a retidão e o concreto.
Depois, ama todo homem a mulher a quem desposa,
Para quem calcula e trabalha as antigas linhas no concreto.
E morre. Morre quando fecham sobre si as paredes,
Tão sempre alva e meticulosamente descoradas.
Ama, por fim, a amante que o alimenta e o devora,
Que o faz renascer do concreto para enterrá-lo em si mesma.
Mas tudo ao seu tempo – é a secreta necessidade da vida.

Porque todo homem ama somente três vezes,
E três vezes tem de morrer.
Mas só o gênio ama tudo, completamente,
E tão completamente ama, quão completamente morre:
Já não possui o corpo? Abraça-o mais forte!
Está distante? na infinita distância de um palmo?
Toca-lhe os dedos!A ponta dos dedos
Que tudo recria, reacende e apaga.
Então, ele diz, em segredo, a si mesmo:
“Ainda vivo porque posso tocar seus dedos,
Migalha que seja da infância do paraíso”.

17 de dezembro de 2011

Fim da comédia para Sérgio Brito

Aplauti amici, comedia finita est.

Morreu hoje o ator, diretor, escritor e apresentador da TV Brasil Sérgio Brito, certamente uma das maiores personalidades do meio artístico brasileiro. Jamais esquecerei o quanto me foi valioso, num lugar em que não tinha acesso a nenhum evento de artístico, seu programa Arte com Sérgio Brito. Depois de Paulo Autran, o teatro brasileiro perde mais um dos grandes do nosso tempo. Abaixo deixo sua biografia e uma homenagem da (EBC)/TV a esse mestre da dramaturgia brasileira que certametne ainda será lembrado por muito tempo por todos os que muito aprenderam com ela.

***


***

Filho de Lauro e Alzira, seu pai era funcionário público e sua mãe, dona de casa. Sérgio vivia com eles e o irmão, Hélio. Uma típica família da Vila Isabel daquela época: todos religiosos, tradicionais e conservadores.
A idéia de ser ator não passava por sua cabeça, tanto é que chegou a cursar até o sexto ano de medicina, na Faculdade da Praia Vermelha. Mas foi no teatro universitário amador, fazendo o papel de Benvoglio em Romeu e Julieta, que Sérgio descobriu que o teatro seria sua vida. No ano de 1945 abandonou a medicina para se dedicar à sua paixão.

Sérgio foi o criador, diretor e ator do Grande Teatro Tupi, que foi ao ar por mais de dez anos. Com elenco no qual se destacam Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Natália Thimberg, Manoel Carlos, Fernando Torres, Zilka Salaberry, Aldo de Maio e Cláudio Cavalcanti, o teleteatro apresentou sob o seu comando repertório de mais de 450 peças dos maiores autores nacionais e estrangeiros. Depois de seis anos na extinta TV Tupi, o Grande Teatro transfere-se, para a TV Rio e depois, por seis meses, para a TV Globo – um programa formador de plateia, referência na história da televisão e do teatro brasileiro. Na carreira teatral, mais de 90 espetáculos representados.

Em 1953, participa do primeiro elenco profissional do Teatro de Arena atuando em Esta Noite é Nossa, de Stafford Dickens, direção de José Renato; e dirigindo Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena. Ainda na década de 1950, fez parte da Companhia Maria Della Costa e do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em que atua em A Casa de Chá do Luar de Agosto, Rua São Luís, 27 - 8º Andar e Um Panorama Visto da Ponte, sua última incursão no grupo.

Em 1959, formou sua própria companhia teatral, o Teatro dos Sete, com Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli, Alfredo Souto de Almeida e Fernando Torres, e apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a histórica montagem de O Mambembe, de Artur Azevedo.

Em 1960, especialmente para o Teatro dos Sete, Nelson Rodrigues escreveu O Beijo no asfalto.

Em 1963, dirigiu na TV Rio, A morta sem espelho de Nelson Rodrigues.

Em 1964, dirigiu mais duas novelas: Vitória e Sonho de amor, esta última uma adaptação feita por Nélson Rodrigues do romance O tronco do ipê, de José de Alencar, produzida pela TV Rio e exibida também em São Paulo pela TV Record.

Em 1965, juntamente com Líbero Miguel, dirigiu a primeira novela da Rede Globo, Ilusões Perdidas, e no elenco estavam Emiliano Queiroz, Leila Diniz, Miriam Pires, Norma Blum, Osmar Prado, Reginaldo Faria, entre outros.

Em 1969, na TV Excelsior, Sérgio dirigiu A muralha, de Ivani Ribeiro, baseada no romance de Dinah Silveira de Queiroz. A novela tinha no elenco Fernanda Montenegro, Mauro Mendonça, Rosamaria Murtinho, Stênio Garcia e Nathalia Timberg.

Em 1971, ao lado de Fernanda Montenegro, atua na peça O Marido Vai à Caça de Georges Feydeau. Dirigido por Amir Haddad.

Em 1974, destaca-se como um dos intérpretes de A Gaivota, de Anton Tchekhov, dirigida por Jorge Lavelli.

Em 1975, interpreta o Dr. Facchini, grande sucesso da novela Escalada de Cassiano Gabus Mendes. A novela tinha no elenco Tarcísio Meira, Renée de Vielmond, Suzana Vieira, Ney Latorraca e Nathália Timberg.

Em 1976, atuou no novela Anjo Mau, ao lado de Suzana Vieira, José Wilker, Renée de Vielmond, Pepita Rodrigues, Osmar Prado, entre outros. A novela de Cassiano Gabus Mendes foi exibida no horário das 19 horas e contou com 175 capítulos. Dirigida por Régis Cardoso e Fábio Sabag, Anjo Mau foi a penúltima novela em preto-e-branco exibida pela Rede Globo.

Em 1977, dirige Renata Sorrah, em parceria com Walter Scholiers, em Afinal... uma Mulher de Negócios, de Rainer Werner Fassbinder.

Em 1978, fundou o Teatro dos 4 na Gávea, como sempre com sua mania de números. E os quatro, na verdade eram três: Sergio Britto, Paulo Mamede e Mimina Roved. Durante quinze anos produziram dezessete espetáculos de teatro da maior importância, entre os quais: Os viciados; Assim é se lhe parece; Tio Vânia; O jardim das cerejeiras, e muitas outras.

Em 1982, atuou na novela Paraíso, de Benedito Ruy Barbosa. Ao lado de Tereza Rachel e Ary Fontoura. Ainda em 1982, juntamente com fonoaudióloga Glorinha Beutenmuller, ajuda fundar a CAL(Casa de Arte das Laranjeiras), que hoje é considerada uma das escolas mais conceituadas na preparação do ator no Brasil.

Em 1985, está em Assim É...(Se Lhe Parece), de Luigi Pirandello, com direção de Paulo Betti.

Em 1985, atua ao lado de Rubens Corrêa e Ítalo Rossi em Quatro Vezes Beckett, que marca o início da trajetória do diretor Gerald Thomas no Brasil.

Em 1986, atua com Tônia Carrero, na peça Quartett, de Heiner Müller e sob direção de Gerald Thomas.
Em 1989, assume a direção artística do Centro Cultural do Banco do Brasil - CCBB.

Em 1990, Sérgio interpreta Antero Novaes, na novela Pantanal, da extinta Rede Manchete. O personagem era viciado em pôquer, morre no 15º capítulo da novela, quando está jogando com o neto e no jogo faz um royal street flash e morre de emoção.

Em 1993, na Globo, participou de Olho no Olho, onde interpretou o Padre João.

Em 1994, Sérgio Britto integrou o elenco da minissérie Memorial de Maria Moura.

Em 1996, lança sua autobiografia Fabrica de Ilusão: 50 Anos de Teatro; (Funarte/Salamandra). No mesmo ano, interpreta o Conde Valadares, na novela Xica da Silva, da Rede Manchete. A novela tinha Taís Araújo no papel principal.

No ano de 2000, o ator fez papel de Teodoro Oliveira de Barros, na novela Vidas Cruzadas, da Rede Record.

Em 2003, com a direção de Domingos Oliveira estreou Sergio 80, um espetáculo-solo que falava sobre as suas experiências em seus 80 anos de vida.

Em 2008, interpreta Dom Pedro II. no especial da Rede Globo: O Natal do Menino Imperador. Escrito por Péricles de Barros, com direção geral de Denise Saraceni. No mesmo ano, com a peça A última gravação de Krapp e Ato sem palavras I de Samuel Beckett, ganhou o prêmio "Faz Diferença", do Jornal O GLOBO como Personalidade do teatro.

Em 2009, ganhou o Prêmio Shell de melhor ator, por A última gravação de Krapp e Ato sem palavras I.
Em 2010, protagonizou juntamente com Suely Franco, a peça Recordar é Viver, com direção de Eduardo Tolentino de Araújo. No mesmo ano, lança sua segunda autobiografia O Teatro e Eu. Uma corajosa revisão de seus 86 anos de idade, dos quais 65 de carreira na televisão, cinema e, principalmente, no teatro. Também em 2010, por conta de uma cláusula de exclusividade no contrato com a Rede Globo, que Sérgio Britto não aceita, é substiuido por Leonardo Villar, em Passione.

Apresentou o programa semanal Arte com Sérgio Britto, na TV Brasil.

Morreu no dia 17 de dezembro de 2011 aos 88 anos de idade, no Rio de Janeiro, devido a problemas cardiorrespiratórios.

***
R. I. P.

10 de dezembro de 2011

T. S. Eliot: A canção de amor de J. Alfred Prufrock



S'io credesse che mia risposta fosse
A persona che mai tornasse al mondo,
Questa fiamma staria senza piu scosse.
Ma perciocche giammai di questo fondo
Non torno vivo alcun, s'i'odo il vero,
Senza tema d'infamia ti rispondo.
Dante Alighieri. Ladivina Commédia
Inferno, XXVII, 61-66 (N. do T.)
LET us go then, you and I,      
When the evening is spread out against the sky
Like a patient etherized upon a table;  
Let us go, through certain half-deserted streets,           
The muttering retreats           
Of restless nights in one-night cheap hotels      
And sawdust restaurants with oyster-shells:     
Streets that follow like a tedious argument       
Of insidious intent        
To lead you to an overwhelming question….           
Oh, do not ask, “What is it?”  
Let us go and make our visit.   

In the room the women come and go  
Talking of Michelangelo.         

The yellow fog that rubs its back upon the window-panes,              
The yellow smoke that rubs its muzzle on the window-panes   
Licked its tongue into the corners of the evening,         
Lingered upon the pools that stand in drains,   
Let fall upon its back the soot that falls from chimneys,
Slipped by the terrace, made a sudden leap,           
And seeing that it was a soft October night,     
Curled once about the house, and fell asleep.  

And indeed there will be time  
For the yellow smoke that slides along the street,        
Rubbing its back upon the window panes;               
There will be time, there will be time    
To prepare a face to meet the faces that you meet;      
There will be time to murder and create,         
And time for all the works and days of hands  
That lift and drop a question on your plate;              
Time for you and time for me, 
And time yet for a hundred indecisions,           
And for a hundred visions and revisions,         
Before the taking of a toast and tea.    

In the room the women come and go          
Talking of Michelangelo.         

And indeed there will be time  
To wonder, “Do I dare?” and, “Do I dare?”   
Time to turn back and descend the stair,         
With a bald spot in the middle of my hair—             
(They will say: “How his hair is growing thin!”)
My morning coat, my collar mounting firmly to the chin,          
My necktie rich and modest, but asserted by a simple pin—   
(They will say: “But how his arms and legs are thin!”)  
Do I dare                 
Disturb the universe?   
In a minute there is time           
For decisions and revisions which a minute will reverse.          

For I have known them all already, known them all:    
Have known the evenings, mornings, afternoons,                 
I have measured out my life with coffee spoons;          
I know the voices dying with a dying fall          
Beneath the music from a farther room.           
  So how should I presume?    

And I have known the eyes already, known them all—                   
The eyes that fix you in a formulated phrase,   
And when I am formulated, sprawling on a pin,           
When I am pinned and wriggling on the wall,   
Then how should I begin         
To spit out all the butt-ends of my days and ways?              
  And how should I presume?  

And I have known the arms already, known them all—           
Arms that are braceleted and white and bare   
(But in the lamplight, downed with light brown hair!)   
Is it perfume from a dress                
That makes me so digress?     
Arms that lie along a table, or wrap about a shawl.      
  And should I then presume?  
  And how should I begin?
.      .      .      .      .      .      .      .
           
Shall I say, I have gone at dusk through narrow streets        
And watched the smoke that rises from the pipes        
Of lonely men in shirt-sleeves, leaning out of windows?…       

I should have been a pair of ragged claws       
Scuttling across the floors of silent seas.
.      .      .      .      .      .      .      .
           
And the afternoon, the evening, sleeps so peacefully!          
Smoothed by long fingers,       
Asleep … tired … or it malingers,       
Stretched on the floor, here beside you and me.          
Should I, after tea and cakes and ices,
Have the strength to force the moment to its crisis?             
But though I have wept and fasted, wept and prayed, 
Though I have seen my head (grown slightly bald) brought in upon a platter,   
I am no prophet—and here’s no great matter; 
I have seen the moment of my greatness flicker,          
And I have seen the eternal Footman hold my coat, and snicker,                 
And in short, I was afraid.       

And would it have been worth it, after all,       
After the cups, the marmalade, the tea,
Among the porcelain, among some talk of you and me,           
Would it have been worth while,                 
To have bitten off the matter with a smile,        
To have squeezed the universe into a ball        
To roll it toward some overwhelming question,
To say: “I am Lazarus, come from the dead,   
Come back to tell you all, I shall tell you all”—        
If one, settling a pillow by her head,    
  Should say: “That is not what I meant at all;   
  That is not it, at all.”  

And would it have been worth it, after all,       
Would it have been worth while,                  
After the sunsets and the dooryards and the sprinkled streets, 
After the novels, after the teacups, after the skirts that trail along the floor—   
And this, and so much more?—          
It is impossible to say just what I mean!          
But as if a magic lantern threw the nerves in patterns on a screen:                
Would it have been worth while          
If one, settling a pillow or throwing off a shawl,           
And turning toward the window, should say:   
  “That is not it at all,   
  That is not what I meant, at all.”
.      .      .      .      .      .      .      .
                   
No! I am not Prince Hamlet, nor was meant to be;      
Am an attendant lord, one that will do 
To swell a progress, start a scene or two,       
Advise the prince; no doubt, an easy tool,       
Deferential, glad to be of use,          
Politic, cautious, and meticulous;         
Full of high sentence, but a bit obtuse; 
At times, indeed, almost ridiculous—  
Almost, at times, the Fool.      

I grow old … I grow old …            
I shall wear the bottoms of my trousers rolled. 

Shall I part my hair behind? Do I dare to eat a peach?
I shall wear white flannel trousers, and walk upon the beach.   
I have heard the mermaids singing, each to each.         

I do not think that they will sing to me.         

I have seen them riding seaward on the waves 
Combing the white hair of the waves blown back        
When the wind blows the water white and black.        

We have lingered in the chambers of the sea   
By sea-girls wreathed with seaweed red and brown            
Till human voices wake us, and we drown.

 
 ***
Sigamos então, tu e eu,
Enquanto o poente no céu se estende
Como um paciente anestesiado sobre a mesa;
Sigamos por certas ruas quase ermas,
Através dos sussurrantes refúgios
De noites indormidas em hotéis baratos,
Ao lado de botequins onde a serragem
Às conchas das ostras se entrelaça:
Ruas que se alongam como um tedioso argumento
Cujo insidioso intento
É atrair-te a uma angustiante questão . . .
Oh, não perguntes: "Qual?"
Sigamos a cumprir nossa visita.
No saguão as mulheres vêm e vão
A falar de Miguel Ângelo.
A fulva neblina que roça na vidraça suas espáduas,
A fumaça amarela que na vidraça seu focinho esfrega
E cuja língua resvala nas esquinas do crepúsculo,
Pousou sobre as poças aninhadas na sarjeta,
Deixou cair sobre seu dorso a fuligem das chaminés,
Deslizou furtiva no terraço, um repentino salto alçou,
E ao perceber que era uma tenra noite de outubro,
Enrodilhou-se ao redor da casa e adormeceu.
E na verdade tempo haver á
Para que ao longo das ruas flua a parda fumaça,
Roçando suas espáduas na vidraça;
Tempo haverá, tempo haverá
Para moldar um rosto com que enfrentar
Os rostos que encontrares;
Tempo para matar e criar,
E tempo para todos os trabalhos e os dias em que mãos
Sobre teu prato erguem, mas depois deixam cair uma questão;
Tempo para ti e tempo para mim,
E tempo ainda para uma centena de indecisões,
E uma centena de visões e revisões,
Antes do chá com torradas.
No saguão as mulheres vêm e vão
A falar de Miguel Ângelo.
E na verdade tempo haverá
Para dar rédeas à imaginação. "Ousarei" E . . "Ousarei?"
Tempo para voltar e descer os degraus,
Com uma calva entreaberta em meus cabelos
(Dirão eles: "Como andam ralos seus cabelos!")
- Meu fraque, meu colarinho a empinar-me com firmeza o
queixo,
Minha soberba e modesta gravata, mas que um singelo alfinete
apruma
(Dirão eles: "Mas como estão finos seus braços e pernas! ")
- Ousarei
Perturbar o universo?
Em um minuto apenas há tempo
Para decisões e revisões que um minuto revoga.
Pois já conheci a todos, a todos conheci
- Sei dos crepúsculos, das manhãs, das tardes,
Medi minha vida em colherinhas de café;
Percebo vozes que fenecem com uma agonia de outono
Sob a música de um quarto longínquo.
Como então me atreveria?
E já conheci os olhos, a todos conheci
- Os olhos que te fixam na fórmula de uma frase;
Mas se a fórmulas me confino, gingando sobre um alfinete,
Ou se alfinetado me sinto a colear rente à parede,
Como então começaria eu a cuspir
Todo o bagaço de meus dias e caminhos?
E como iria atrever-me?
E já conheci também os braços, a todos conheci
- Alvos e desnudos braços ou de braceletes anelados
(Mas à luz de uma lâmpada, lânguidos se quedam
Com sua leve penugem castanha!)
Será o perfume de um vestido
Que me faz divagar tanto?
Braços que sobre a mesa repousam, ou num xale se enredam.
E ainda assim me atreveria?
E como o iniciaria?
.......
Diria eu que muito caminhei sob a penumbra das vielas
E vi a fumaça a desprender-se dos cachimbos
De homens solitários em mangas de camisa, à janela
debruçados?
Eu teria sido um par de espedaçadas garras
A esgueirar-me pelo fundo de silentes mares.
.......
E a tarde e o crepúsculo tão .docemente adormecem!
Por longos dedos acariciados,
Entorpecidos . . . exangues . . . ou a fingir-se de enfermos,
Lá no fundo estirados, aqui, ao nosso lado.
Após o chá, os biscoitos, os sorvetes,
Teria eu forças para enervar o instante e induzi-lo à sua crise?
Embora já tenha chorado e jejuado, chorado e rezado,
Embora já tenha visto minha cabeça (a calva mais cavada)
servida numa travessa,
Não sou profeta - mas isso pouco importa;
Percebi quando titubeou minha grandeza,
E vi o eterno Lacaio a reprimir o riso, tendo nas mãos meu
sobretudo.
Enfim, tive medo.
E valeria a pena, afinal,
Após as chávenas, a geléia, o chá,
Entre porcelanas e algumas palavras que disseste,
Teria valido a pena
Cortar o assunto com um sorriso,
Comprimir todo o universo numa bola
E arremessá-la ao vértice de uma suprema indagação,
Dizer: "Sou Lázaro, venho de entre os mortos,
Retorno para tudo vos contar, tudo vos contarei."
- Se alguém, ao colocar sob a cabeça um travesseiro,
Dissesse: "Não é absolutamente isso o que quis dizer
Não é nada disso, em absoluto."
E valeria a pena, afinal,
Teria valido a pena,
Após os poentes, as ruas e os quintais polvilhados de rocio,
Após as novelas, as chávenas de chá, após
O arrastar das saias no assoalho
- Tudo isso, e tanto mais ainda? -
Impossível exprimir exatamente o que penso!
Mas se uma lanterna mágica projetasse
Na tela os nervos em retalhos . . .
Teria valido a pena,
Se alguém, ao colocar um travesseiro ou ao tirar seu xale às
pressas,
E ao voltar em direção à janela, dissesse:
"Não é absolutamente isso,
Não é isso o que quis dizer, em absoluto."
Não! Não sou o Príncipe Hamlet, nem pretendi sê-lo.
Sou um lorde assistente, o que tudo fará
Por ver surgir algum progresso, iniciar uma ou duas cenas,
Aconselhar o príncipe; enfim, um instrumento de fácil
manuseio,
Respeitoso, contente de ser útil,
Político, prudente e meticuloso;
Cheio de máximas e aforismos, mas algo obtuso;
As vezes, de fato, quase ridículo
Quase o Idiota, às vezes.
Envelheci . . . envelheci . . .
Andarei com os fundilhos das calças amarrotados.
Repartirei ao meio meus cabelos? Ousarei comer um
pêssego?
Vestirei brancas calças de flanela, e pelas praias andarei.
Ouvi cantar as sereias, umas para as outras.
Não creio que um dia elas cantem para mim.
Vi-as cavalgando rumo ao largo,
A pentear as brancas crinas das ondas que refluem
Quando o vento um claro-escuro abre nas águas.
Tardamos nas câmaras do mar
Junto às ondinas com sua grinalda de algas rubras e castanhas
Até sermos acordados por vozes humanas. E nos afogarmos.

(tradução:  Ivan Junqueira)

4 de dezembro de 2011

Um quase poeta

Coubert. Auto-retrato
Ele não escreve mais canções de amor;
Não se deita mais sobre a pálida
Epiderme que devora a fome insana,
D’uma plástica e lúcida esferográfica.




Ele não escreve mais canções de amor
Porque teve todo peso sobre os ombros
E agora não mais... quer a leveza
Algo de puro como as nuvens secas. 




Cuida desse jardim atravessado de hera.
Levanta-te e vê: um mísero minguante
Cambaleia entre colchões escuros.