/> Πρωτεύς

27 de setembro de 2010

"Se"

Pudesse eu virar o tempo ao reverso,
Tornar até onde estivemos.
Não faria nada diverso,
Tenho certo.

Quanto engano! Pudesse eu...
Contaria menos as sílabas,
Deixaria toda métrica e rima;
Tomaria teu corpo como último.
Com toda força, tomaria
Mesmo e mais o que não me desses.
Do que não me dissesses, saberia;
Creria... faria... seria.

Quanto engano! Pudesse eu...
Não poderia.

26 de setembro de 2010

"Foi assim"

A palavra emudecida,
Não dita, não-palavra,
Nem signo, nem sentido,
Nem silêncio, nem ruído -
É só tempo e "se",
Mordida de cão e pedra,
Esperança órfica e vã,
Fúria Sísifo.

24 de setembro de 2010

Em Colono

                                       Omnis dies, omnis hora quam nihil sumus, ostendit (Sêneca)


Onde estareis companheiros,
Agora que me chegam, mortos, mil versos
Épicos e odes da fortuna dos Tirésias?
Éramos juntos animais tolos e ridentes,
Cantávamos as maças e o cálice de Vênus,
Corríamos até fugir ao Febo. E, jovens,
Éramos árcades, talvez, ou lusitanos,
Filhos de musas, ninfas e sátiros,
Semideuses perdidos no lugar dos homens.
Onde estareis vós, companheiros, amigos todos?
Agora que me fizeram um homem são e velho
A colher o silêncio de um corpo e o riso d’outro?
Eis-me aqui tão longe da montanha mágica
Que o canto endurece em prosa e da palavra
A nítida fisionomia já me escapa.
Eis-me aqui cego, circundado de enigmas;
Um bode velho, surrado nos bagos, e expulso
Da terra natal em que não cheguei.
Eis-me aqui um Édipo a perseguir espelhos.